Há uma grande diferença entre praticar uma religião e experimentar um relacionamento com Deus. Há uma grande diferença entre religião e salvação. Há muitas religiões, mas um só Deus e um só Evangelho. Religião vem dos homens; "O Evangelho é o poder de Deus para a salvação por meio de Jesus Cristo". Religião é o ópio do povo; Salvação é presente de Deus ao homem perdido. Religião é história do homem pecador que precisa fazer alguma coisa para o seu deus imaginado. O Evangelho nos diz o que o Deus Santo fez pelo homem pecador. Religião procura um deus; O Evangelho é a Boa Nova de que Jesus Cristo procura o homem que se encontra no caminho errado. "Porque o Filho do Homem veio salvar o que se havia perdido" (Mateus 18:11). O Evangelho muda o ser humano por dentro por meio da presença do Espírito Santo de Deus em seu coração. Nenhuma religião tem um salvador ressuscitado, que perdoa os pecados e dá vida eterna, pois só Jesus Cristo venceu a morte. Por isso, dirija-se só a Jesus Cristo. Ele é o único que pode perdoar os seus pecados e lhe dar vida nova nesta vida e vida eterna no reino de Deus. "Crê no Senhor Jesus, e serás salvo" (Atos 16:31). "E o sangue de Jesus , Seu Filho, nos purifica de todo o pecado" (I João 1:7). Receba a Jesus AGORA em seu coração como seu Salvador e como único Senhor de sua vida. "Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações"; "Hoje é o dia da Salvação". E depois de aceitar a Cristo Ele diz: "Se me amais, guardai os meus mandamentos" (João 14:15). "Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor" (João 15:10). "Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele" (João 14:21).

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DOUTRINA DA REVELAÇÃO PARTE III

CONCEITOS DA REVELAÇÃO NO SÉCULO XXI

Por: Jorge Schemes*

A nova ortodoxia abriu espaço para o existencialismo, o qual já havia sido antevisto por Kierkegaard (1855). O existencialismo pode ser defino em síntese como a vida na perspectiva da existência. A nova ortodoxia começa com Martin Buber, o qual não é teólogo, mas teve uma grande influência sobre a teologia moderna e pós-moderna. Buber escreveu um pequeno livro intitulado “Eu e Tu”, o qual contém uma linguagem filosófica muito densa. Ele sugere a existência de dois reinos de relacionamento, pois o homem se relaciona em dois níveis: 1. Eu e as coisas; 2. Eu e o outro (Tu). O nível do eu e as coisas é próprio do método empírico, científico. Este é o modelo ocidental, é a visão ocidental do mundo. A descrição analítica que caracteriza o método científico tende a coisificar as pessoas também. Buber era filósofo judeu, e nesta relação entre o Eu e o Tu alegava que a maior maneira de ter esse relacionamento era com Deus. Segundo Buber, para conhecer uma pessoa é necessário relacionamento íntimo, e a suprema expressão do relacionamento ao nível Eu e Tu é com Deus. Buber influenciou muito um teólogo calvinista chamado E. Brunner. Brunner acreditava na queda do homem no pecado, na transcendência de Deus e que Jesus era a segunda pessoa da Trindade. Houve uma tendência de voltar a ortodoxia, à reforma, mas o retorno não foi completo, por isso é denominada de nova ortodoxia. O contexto histórico da época era de guerras e desgraças. Brunner escreveu dois livros com temas semelhantes: 1. A Verdade como Encontro (Truth as Encounter); 2. Revelação e razão (Revelation and Reason). Brunner aplicou a filosofia de Buber ao cristianismo, afetando diretamente o conceito de revelação. No conceito da teologia do encontro há algumas implicações: o homem caído necessita de ajuda Divina; revelação é um encontro, um evento e não comunicação de informação. A revelação acontece quando Deus e o profeta se encontram em um relacionamento Eu e Tu sem nenhum elemento material (Coisas). Apenas há o impacto do encontro sem nenhuma informação, desta maneira toda revelação é limitada a este encontro imanente, subjetivo. Neste encontro não há nenhuma comunicação, apenas o encontro. Encontra-se somente Deus em si sem mais nada.
Dentro desta perspectiva, qual é o propósito das Escrituras Sagradas? A bíblia é apenas uma coleção de testemunhos de fé, não é a Palavra de Deus em si, mas o testemunho do encontro do profeta com Deus, um relato da experiência do profeta. A bíblia é um testemunho primário da revelação e o encontro é a Palavra de Deus e a função da bíblia é mediar a revelação. Assim, cada geração tem a mesma possibilidade de ter a revelação, não é apenas uma experiência do passado. E quanto a natureza da autoridade bíblica, as Escrituras não têm caráter normativo. A bíblia é apenas uma coleção de testemunhos de fé para criar nos crentes o mesmo tipo de experiência. Não se usa mais o termo “Palavra” para doutrinas porque estas não são adequadas ou nem mesmo relevantes para todas as pessoas.
No cenário atual podemos diagnosticar várias tendências modernas e pós-modernas. Brunner no está só em sua ênfase subjetiva para a Revelação. W. Pannemberg crê que a revelação se dá na história. Revelação é a ação de Deus na história. Acredita que o ser humano com seus poderes naturais sem nenhuma ajuda sobrenatural pode apropriar-se desta revelação que Deus faz de si mesmo na natureza. Para Karl Barth e R. Bultmann a revelação é o Kerygma (proclamação), mas com uma forte qualidade existencial. Eles fazem uma ligação entre proclamação e revelação. O Kerygma está intimamente ligado com a experiência humana, não há a dimensão pública. Todavia, os teólogos da Teologia da Libertação criticam Bultmann, pois a fé tem uma dimensão pública além da privada que é o próprio Kerygma (religião própria e particular). A teologia kerigmática é confrontada com a teologia da libertação, há muitas críticas. A teologia da libertação fala da revelação como uma nova percepção. Revelação para os teólogos da libertação é uma emergência a um estado mais avançado da consciência humana, não há conteúdo fixo. Esta revelação é mediada por eventos paradigmáticos e como conseqüência a bíblia deve ser reinterpretada para se ajustar as mudanças históricas. Dentro da concepção da Teologia da Libertação, Deus hoje está sendo revelado na história. Assim, revelação é o resultado de nosso envolvimento na história, a qual é mediada pelo clamor do povo, o que exige participação social. A história passa a ser o cenário da revelação e a palavra de Deus nos alcança à medida de nosso envolvimento e participação.
A questão que deve ser levantada para reflexão é a seguinte: a revelação como um tipo de encontro e uma experiência interior, bem como a revelação como um momento histórico e uma nova percepção, são conceitos que têm em comum uma abordagem antropocêntrica. Estes diferentes pontos de vista sobre a revelação são definidos de acordo com a perspectiva do homem e não de Deus. Quais as implicações disto para o cristianismo pós-moderno?

*Jorge Schemes:
Bacharel em Teologia Línguas Bíblicas – Grego e Hebraico.Licenciado em Pedagogia com Habilitação em Séries Inicias e Administração Escolar.Licenciado em Ciências da Religião.Pós-Graduado em Interdisciplinaridade e Metodologia do Ensino Superior.Pós-Graduado em Psicopedagogia Clínica e Institucional.Professor de Filosofia da Educação e Educação Não-Formal na FEJ – ACE.Professor de Religião no Instituto de Parapsicologia de Joinville.Professor de Metodologia Científica na Escola Superior de Teologia e Filosofia do Brasil – ESTEFIB.Técnico Pedagógico na GEECT - Gerência da Educação, Ciência e Tecnologia.

ANTROPOLOGIA RELIGIOSA

REFLEXÕES SOBRE
ANTROPOLOGIA RELIGIOSA


Por: Jorge schemes

A antropologia religiosa estuda o ser humano segundo as ciências da religião, enquanto ser aberto, que busca e acolhe o transcendente usando o método científico e trabalhando com as fontes das matrizes religiosas. Dentre as tarefas da antropologia religiosa desataca-se o estudo do ser humano situado na existência sociopolíticoeconômica. Isso envolve dimensões do ser humano, tais como liberdade, sofrimento, mal, política, cultura, ecologia, trabalho, etc., dentro de um contexto moderno com referências à pós-modernidade. Alguns temas chaves da antropologia religiosa são a origem do homem (criação), como ser nativo (original), na atualidade, na história e como ser peregrino em seu destino como ser escatológico (finalidade, realização). Assim, dentro da antropologia religiosa o estudo do ser humano envolve sua origem, sua atualidade e seu destino; sua criação, sua história e sua finalidade ou realização; sua essência enquanto ser nativo, enquanto ser em progresso e enquanto ser escatológico. Há dois aspectos na dimensão pessoal e social que envolve o Ser: o ser humano natural e otimista e o ser desumano pessimista e realista. Enquanto ser pessoa ele está voltado para o interior e enquanto ser comunidade está voltado para a sociedade, para a cultura, política e história. Se torna inegável que este Ser é um nó de relações. Há ondas de relações construídas pelo ser humano que estão direcionadas no sentido horizontal e vertical. O nó de relações se dá no sentido horizontal com o mundo (cosmos) envolvendo ciência, técnica, trabalho, meio-ambiente, mas também envolve relações intersubjetivas e interpessoais envolvendo aspectos como sexualidade, política, sociedade, cultura. No sentido vertical, o nó de relações construído pelo Ser ocorre nas dimensões do ego e do transcendente. Há uma relação de profundidade na busca por si mesmo, pelo ser pessoa, pela liberdade, pelo humano no ser na relação corpo e espírito. Por outro lado há uma relação de busca pelo mistério, pelo oculto que se dá na dimensão da fé, da religiosidade e da religião. Todos estes aspectos fazem parte das ondas de relações construídas pelo ser humano para dar sentido a sua realidade.
Todavia, o ser humano pode cortar relações em qualquer eixo dimensional ou até mesmo romper com todos. O ser humano desumano é aquele que corta relações em qualquer um dos eixos ou dimensões. O ser humano pronto e acabado não existe, pois o humano no ser está sempre inserido num processo dialético, ou seja, se fazendo, se desfazendo e se refazendo. Todavia, há um forte peso cultural nesse processo. Por exemplo, a cultura judaico-cristã trabalha com o princípio dualista da distinção, enquanto por outro lado a cosmovisão holística é integradora e defende um movimento interdisciplinar. A ciência parte do princípio da divisão para o controle (divide para controlar), isso caracteriza o que conhecemos como especialização, que na minha opinião significa saber cada vez mais a respeito de cada vez menos. Na cosmovisão judaico-cristã significa distinguir, pois a fé judaico-cristã vem do conceito do Deus criador distinto. Essa concepção não desfaz a inter-relação e a integralidade. As grandes religiões do Oriente não têm um Deus criador distinto, pois para eles tudo é uma realidade só caindo na concepção panteísta de Deus, ou seja: tudo é deus e deus é tudo. Nesta concepção não distinção, mas uma relação harmoniosa de interdependência (holismo). Quando se trabalha a distinção corre-se o risco de dividir as coisas, e é isso que caracteriza a ciência moderna. O método cientifico vai distinguindo as coisas e corre o risco de perder a cosmovisão integradora, global. René Descartes escreveu: “penso, logo existo”, em seu método defende a idéia do ser humano psicofísico (extensão pensante e extensão corpórea), assim, o mundo é algo para ser pensando, quantificado, medido, etc. a ética que está subentendida na declaração de descartes é que eu sou, mas o outro não é. Desta maneira o mundo pós-moderno capitalista e neoliberal justifica o individualismo em contraposição a alteridade como fundamentação ética, e promove no inconsciente coletivo as raízes da discriminação e da exclusão.
O mesmo ser humano que é um nó de relações não é isolado, mas forma uma rede onde cada um de nós é um dos nós. Tudo que ocorre na rede é solidário (solidariedade incondicional no bem o no mal). Todavia, quando um nó da rede fica solto ou desamarrado, a rede fica solta e frágil. Manter a rede firme depende de cada um de nós e de todos. A solidariedade do bem é estruturante, e a do mal é desestruturante. Nós somos mais bem integrados no bem (união solidária) do que no mal, assim, só pode existir o mal porque a rede está estruturada no bem. Essa condição social solidária é mais radicada no bem do que no mal, porém o mal agride mais porque afeta o bem natural e comum da constituição da rede e de cada nó (ser humano). Nesse contexto está situada a importância da antropologia religiosa. Enquanto área do conhecimento, a ciência da religião destaca-se como orientadora no processo de contato com as grandes tradições e orientações culturais do nosso tempo (cada povo cria suas grandes orientações culturais). Vejamos as quatro grandes orientações culturais de nosso tempo histórico:
1. Subjetivismo (individualismo): trabalha a partir de si como indivíduo. No passado, algumas culturas pensavam de forma coletiva e não individual (eu). No campo político-filosófico destaca-se o neoliberalismo, o economicismo e o materialismo. No âmbito religioso destaca-se a religião individualizada. Todavia, quando o eu está fora da constituição da rede acaba contribuindo para a criação de uma sociedade fragmentada e regida pelo princípio da anomia (sem lei). As quatro grandes orientações culturais exacerbam (levam a extremos) as quatro grandes dimensões do nó de relações, ou seja: do ser humano com o mundo, com os outros, consigo mesmo e com o transcendente.
2. Economicismo (centrado no ter, no concentrar, no reter as coisas): Trabalha com o princípio da coisificação, da centralização nas coisas. As relações valem como se fossem coisas, há uma coisificação das relações. O princípio ético é pautado pelo lema: usar pessoas e amar as coisas. O Mercado é tratado como um ser vivo autônomo que, segundo Adam Smith, se faz por si mesmo. Há uma identificação do Mercado como um ser pessoal (animismo) o qual chega a ser tratado como se fosse um deus, um ídolo da racionalidade de uma sociedade tecnocrata. As pessoas se entregam ao mercado financeiro como oferendas de produção e consumo. Há uma marginalização intencional, um empobrecimento dos pobres e uma falta de participação ativa e crítica nos processos políticos. Outras evidências ficam por conta da desigualdade social, perda da soberania nacional e dependência do mercado financeiro, perda de valores.
3. Socialismo no sentido de massificação: há grandes aglomerações de pessoas no mundo pós-moderno. Há um forte desejo de igualdade e paz universal. O mundo é visto como uma aldeia universal.
4. Pluralismo religioso: no século XXI as pessoas ainda estão ansiosas pelo sagrado, pelo transcendente. Algumas vezes esse sagrado é comercializado e coisificado. Há uma cosmovisão inter-religiosa interdependente e integradora. Busca-se a unidade na pluralidade e pluralidade na unidade.
No contexto da cultura judaico-cristã, percebemos a infiltração do dualismo antropológico (matéria/espírito; corpo/alma; emoção/razão; etc.). Há uma forma dividida do pensamento crítico que não está presente e não faz parte do pensamento oriental. A pergunta que precisa ser feita é: por que o ocidente tem esta forma de pensamento e esta prática dualista? A infiltração do dualismo antropológico no pensamento ocidental teve influência da filosofia platônica, principalmente através de Santo Agostinho no contexto da tradição religiosa de matriz cristã. Para Platão a filosofia tinha uma dimensão dualista entre o mundo das idéias, verdadeiro, repleto de conhecimento (episteme) e o mundo terreno, onde as coisas eram cópias e sombras, repleto de opiniões (achismo). Esta filosofia estava em voga no início do cristianismo por meio de Plotino que trabalhava o neoplatonismo. Fundamentado em Platão, Agostinho colocou o conteúdo cristão numa linguagem filosófica e cultural platônica. Assim como Platão ele também defendia a idéia do dualismo: céu/terra; Deus/homem; etc. Agostinho defendia a existência de dois mundos, um celestial, onde estavam as idéias, o divino e as luzes, e outro terrestre, o qual era cópia e sombra da realidade celestial. Deste modo o cristianismo vai sendo marcado por uma divisão dualista da realidade (espírito/matéria; alma/corpo; Deus/mundo; razão/emoção; igreja e religião/sociedade e política; etc.; este é o dualismo que está presente em nosso mundo hoje. Porém vale lembrar que há uma diferença entre ética e ontologia dualista. Ética envolve o fazer o bem ou o mal, enquanto ontologia envolve o estudo do ser onde o corpo é mau e alma é boa.
Outra influência sentida em nosso dia é da filosofia cartesiana (René Descartes) que se faz presente na ciência moderna. “Eu penso, logo sou”, alegava Descartes. Em seu conceito psicofísico do ser humano havia uma lógica subentendida pela cultura ocidental européia, e essa lógica tinha uma fundamentação ética que justificaria verdadeiros genocídios de outros seres humanos no continente americano. No dualismo cartesiano da Res Cogitans (sujeito pensante, o ser humano, europeu, homem e sacerdotes), e da Res Extensa (objeto material, mundo, outros povos, mulher e povo) os europeus encontraram uma justificativa válida para validar seu projeto de morte para os povos que habitavam o continente americano.
Hoje, na sociedade cultural pós-moderna, há tentativas de superação do dualismo platônico e do dualismo cartesiano. Uma delas é de justaposição, onde se justapõe uma coisa à outra. Outra tentativa é dialética (inversão), onde se põe valor naquilo que antes não valia, por exemplo: o corpo é valorizado e o espírito não. E uma terceira tentativa de superação é de inclusão das diferenças, onde somos seres corporais e espirituais que temos liberdade e responsabilidade. Neste contexto destaca-se o diálogo inter-religioso, o qual tem por objetivo incluir as diferenças e as minorias sob o princípio do diálogo e da reverência pautado pela ética da alteridade em contraposição a ética cartesiana.
Algumas teorias contemporâneas causam desconfiança sobre a validade da antropologia religiosa, dentre elas a que defende o surgimento da religião como resultado de causas psicológicas ou como determinações do meio sócio-econômico, e não como uma relação do homem com o divino. A antropologia religiosa está fundamentada nas relações do homem com o divino na dimensão do eu e do outro como pólos que se complementam. Busca os fundamentos das tradições culturais e da experiência religiosa, ou das relações do homem com o divino, que estão presentes na inter-relação entre o eu, o outro e o sagrado (que se manifestam na comunidade). A antropologia religiosa busca uma interpretação aberta das tradições culturais e experiências religiosas fazendo uma análise antropológica das manifestações religiosas. Estas manifestações buscam a universalidade do sagrado e causam uma classificação. Contudo, são nestas manifestações que a antropologia religiosa busca a essência da religião. Esta essência envolve vários aspectos como objetos de análise e reflexão, ou seja: fatores psicológicos; sistema religioso; crenças; teologia; experiência existencial com o divino; fenomenologia antropológica; descomprometimento crítico sem estabelecer juízo de valor; coletas de dados empíricos, históricos, culturais, econômicos, políticos e sociais; purificação de conceitos; ciências humanas; linguagem e símbolos próprios, experiências religiosas próprias a nível individual e coletivo. Neste sentido o cientista da religião não pode colocar na frente de seu objeto de estudo e pesquisa a sua própria fé. Se isso ocorrer ele será um catequista ou proselitista. Para evitar este erro é fundamental entender que cultura e religião estão entrelaçadas, interligadas. Uma influencia a outra, são justapostas porque ambas se influenciam e são influenciadas. Também é fundamental nortear o trabalho da antropologia religiosa pela ética que mais dá conta das relações humanas, ou seja; a ética da alteridade.

*Jorge Schemes:
Bacharel em Teologia Línguas Bíblicas – Grego e Hebraico.Licenciado em Pedagogia com Habilitação em Séries Inicias e Administração Escolar.Licenciado em Ciências da Religião.Pós-Graduado em Interdisciplinaridade e Metodologia do Ensino Superior.Pós-Graduado em Psicopedagogia Clínica e Institucional.Professor de Filosofia da Educação e Educação Não-Formal na FEJ – ACE.Professor de Religião no Instituto de Parapsicologia de Joinville.Professor de Metodologia Científica na Escola Superior de Teologia e Filosofia do Brasil – ESTEFIB.Técnico Pedagógico na GEECT - Gerência da Educação, Ciência e Tecnologia de Joinville, SC.



EXEGESE DE ISAIAS 53:11


UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU – FURB
CURSO DE CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

ANÁLISE LÉXICO-SINTÁTICA DE ISAIAS 53:11

Por: Jorge Schemes
Primeiramente é interessante considerar várias versões do texto sagrado para que tenhamos uma idéia geral de seu sentido básico.
“Depois de tanta aflição verá a luz, e ficará satisfeito. Com seu conhecimento meu servo justo justificará a muitos, e levará as iniqüidades deles” (Versão de N.R.V.).
“Pelas fadigas de sua alma verá a luz e se contentará. Por suas desfeitas justificará meu servo a muitos e as culpas deles ele suportará” (Bíblia de Jerusalém – Edição Espanhola).
“Verá o fruto do trabalho de sua alma e ficará satisfeito: com seu conhecimento meu justo servo justificará a muitos, pois ele mesmo carregará com suas iniqüidades”. (Santa bíblia, Versão Moderna, Sociedade Bíblica Americana).
“Depois de tanta aflição ele verá a luz, e ficará satisfeito ao sabê-lo, o justo servo do Senhor libertará a muitos, pois carregará a maldade deles”. (Versão Popular da Bíblia em Espanhol – Dios Habla Hoy).
“Livrada a sua alma dos tormentos verá, e o que verá satisfará a sua alma e seus desejos, o Justo, meu servo, justificará a muitos, e carregará com as iniqüidades deles”. (Sagrada Bíblia, Biblioteca de Autores Cristãos).
“Verá o fruto das preocupações de sua alma e ficará saciado. Este mesmo justo, meu servo, diz o Senhor, justificará a muitos com sua doutrina e pregação, e carregará sobre si os pecados deles”. (Bíblia Sagrada Versão Catelhana de Félix Torres Amat – Revista Católica).
“Ele verá o fruto das fadigas de sua alma, ele estará completamente satisfeito. Por seu conhecimento meu servo justo justificará a muitos, e ele levará os pecados deles”. (Minha Versão baseada em: The Interlinear Hebrew/Greek English Bible, Vol. 3).
Minha Versão em Hebraico em transliteração da Bíblia Hebraica (Isaias 53:11):
“ME AMAL NAPESHO YIRE ET YISEBO BEDA ETTO YASEDDYK ABEDDY LORABBYM WA AONOTAM HU YISEBBEL”.
Faremos uma análise das palavras AMAL = trabalho; e EVED = servo.

AMAL (trabalho) – É uma palavra que significa trabalho mas com os olhos na sua dificuldade. É trabalhar duramente com demasiado esforço. É o esforço de trabalhar suas mãos para terminar uma tarefa, mas sempre com uma atenção particular nas dificuldades. AMAL tem o significado do ato em si mesmo, mas também é o resultado do ato; que neste caso é o fruto ou produto do trabalho. O servo do Senhor não teria que sofrer por nada ou de graça, mas haveria uma recompensa por seu esforço.
Os cantos do servo são uma seqüência e há uma progressão que leva ao clímax em Isaias 52:13-53:12; no quarto canto do servo. Parece que o trabalho do servo é sem resultado, mas ele espera em Deus sua recompensa; é isso o que indica a palavra AMAL. Como exemplo temos a experiência de Jesus quando estava sofrendo na cruz e não havia ninguém que estivesse crendo nele, mas um dos ladrões foi sem dúvida o primeiro fruto do trabalho do Messias (Cf. Luc. 23:39-42).
Sem dúvidas Jesus Cristo “trabalhou tendo os seus olhos fixos não apenas nas dificuldades, mas também, e muito mais nos resultados”. (Cf. Mat. 26:36-46). Quando no Getsemâni sua humanidade reinou por um momento diante do sofrimento, mas com os olhos cheios de amor ele olhou ao futuro e viu os resultados de seu esforço, ele viu a cada um de nós.

EVED (servo) – Em Isaias a palavra, servo, aparece 61 vezes e destas 53 vezes ela está relacionada com YHWH, ou seja, “servo de Yahweh”. A raiz da palavra pode também ser traduzida como escravo. Além disso a palavra servo está determinada em seu sentido como conceito oposto (ADON) Senhor. Como conceito relacional, EVED adquire seu pleno significado, ou seja: servo subalterno, súdito, ministro.
Que um homem se denomine como servo de Deus, ou se chame servidor de Deus no AT é conseqüência natural da concepção de Deus como Senhor. A associação primária da palavra EVED não é a de estar submetido, mas a de pertencer ao Senhor e estar protegido por ele. A única diferença essencial na relação do servo entre os homens e entre o homem e Deus consiste em que o servo de um homem pode significar também uma gravíssima diminuição da existência, enquanto que ser servo de Deus significa sempre ter um bom Senhor. Nunca pode significar escravidão em sentido negativo.
Mais especificamente o significado de servo de YHWH nos cantos do servo de Deus (Isaias 42:1-53:12) só é possível esclarecer pelo conjunto dos textos. O sofrimento do servo (52:13-53:12) está estreitamente ligado com a atuação de Deus na história humana. Há comentaristas que sugerem que o servo de Deus descrito na perícopa é Ciro, ou Zorobabel ou mesmo o próprio Israel. Mas, temos de considerar que no texto o profeta fala claramente do servo como uma figura distinta de Ciro, Zorababel e Israel. O servo é retratado como uma figura individual, e além disso devemos considerar que ao ter fracassado o serviço de Israel a Deus, o próprio Deus se encarrega de eliminar o pecado do povo. Através de seu serviço atua YHWH como confirma o texto de Isaias 52:13-53:12.
De acordo com muitos comentaristas, muito se tem escrito sobre a identificação do servo do Senhor apresentado em Isaías 40-55; ainda que a expressão ocorra apenas em Isaías 42:19. Uma ampla relação do sentido da palavra servo tem sido feita, mas temos que considerar que o sentido e o uso da palavra servo no AT segue em textos do NT. Na LXX EVED é mais traduzido como DOULOS = escravo. De maneira muito significativa, Jesus é chamado de servo do Senhor (Cf. Atos 3:13, 26; 4:27,30), provavelmente identificado aqui como o servo de Isaías 53:11. O próprio Cristo se colocou em posição de servo, se humilhou até a morte e morte de cruz (Cf. Filip. 2:6-8), mas obteve a vitória eterna (V. 9-11). Baseado em atos 8:26-40 o servo de Isaías 53 é nada menos que o próprio Jesus (V. 35).

Bibliografia:

Archer, Gleason. Merece Confiança o Antigo Testamento? São Paulo: Vida Nova, 1991.

Davidson, Benjamin. The Analytical Hebrew and Choldee Lexicon. Michigan: Zondervan P.H., 1970.

Stuart, Douglas. Old Testament Exegesis: A Primer for Students end Pastors. Philadelphia: Westminster Press, 1984.

EXEGESE DE ROMANOS 1:1

UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU – FURB
CURSO DE CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

EXEGESE DE ROMANOS 1:1
O Significado da Expressão: Servo de Jesus Cristo
(Grego: Doulos Cristou Iesou)


Por: Jorge Schemes*


O texto original em grego diz: “PAULOS DOULOS CRISTOU IESOU KLETOS APOSTOLOS APHORISMENOS EIS EUANGELION THEOU”. (Paulo, um escravo de Jesus Cristo, chamado apóstolo que foi separado para o evangelho de Deus). A Bíblia de Jerusalém traduz o texto assim: “Paulo, servo de Jesus Cristo. Apóstolo por vocação, escolhido para o evangelho de Deus”. Contudo, temos que notar a ausência do artigo definido antes da palavra Apóstolo no original grego. Paulo começa sua carta assinando no começo pois este é o costume da sua época, isto é, indica o nome e dá certa informação do autor no começo e não no final como geralmente fazemos hoje.

Mas, quem Foi Paulo? A carta aos Romanos começa com um nome pessoal, Paulo. Não é por acaso que ele começou assim, pois um nome não é uma mera palavra de rotina, e principalmente no caso de Paulo que era um dirigente religioso. Ao iniciar a carta de Romanos com o seu nome Paulo assume sua responsabilidade pois seu nome o colocava em evidência. Sem dúvidas que a mensagem do seu Senhor começa com o nome, a humanidade do profeta sob a inspiração do espírito Santo de Deus (Cf. II Pedro 1:21).
Vamos considerar algumas características da vida pessoal de Paulo. Nascido em tarso da Cilicia por volta do ano 10 de nossa era, de uma família judia da tribo de benjamim, mas ao mesmo tempo cidadão romano. Havia um pacto entre Roma e Tarso de que quem nascia em Roma era Tarsiano e quem nascia em Tarso era Romano. Logo, Paulo era, com certeza, cidadão Romano por nascimento. Podemos concluir também que Paulo foi também Hebreu por nascimento, educação e sentimentos pois foi capaz de denominar-se “hebreu dos hebreus” (Cf. Filipenses 3:5). Em Romanos 11:1 lemos que era da tribo de Benjamim. Siegfried Horn sugere que talvez colocaram seu primeiro nome como Saul, o primeiro rei de Israel, o qual também era da tribo de Benjamim.
As Escrituras Sagradas não dizem quase nada acerca de seus pais. Há apenas uma menção passageira a sua mãe (Cf. Gálatas 1:15). Segundo Atos 23:16 Paulo não era filho único, pois neste texto é mencionado o filho da irmã de Paulo. Mas, pouco se sabe de sua família. Atos 22:28 faz menção ao seu pai como um cidadão romano e talvez fariseu (Cf. Atos 23:6); Se foi assim podemos supor que Paulo procedia de uma família de certa importância na sociedade judaica. Jerônimo, historiador judeu, afirma que os pais de Paulo viveram originariamente na região da Galileia, e que por volta do ano 04 antes de Cristo foram levados como escravos a Tarso, onde obtiveram sua liberdade, prosperaram e se tornaram cidadãos romanos.
Assim, a vida de Paulo começou em tarso, e como todo judeu foi circuncidado ao oitavo dia. O mundo na época de Paulo era culturalmente heterogêneo e era um mundo poliglota. Sem dúvida havia uma multidão de idiomas diferentes, sendo o grego a língua franca do império e o latim além da língua vernácula de cada grupo.
Os comentaristas estão de acordo ao afirmarem que Paulo recebeu dois nomes por ocasião de seu nascimento. Devido ao contexto poliglota e multicultural no qual nasceu Paulo ou Saulo, ele tinha dois nomes. Pode Ter acontecido o seguinte: quando foi circuncidado recebeu um nome judeu: Saulo, mas como vivia numa comunidade gentil foi lhe dado também um nome latino: Paulus, cujo significado equivale em grego a Pauros, que significa “pequeno garoto”.
Talvez como hebreu Paulo se identificaria ou se apresentaria assim: sou Saulo, o fariseu de Jerusalém; e talvez como cidadão romano assim: sou Paulo cidadão de Tarso. Portanto, a suposta modificação ou mudança de seu nome não tem fundamento, e certamente não está relacionada com sua conversão no caminho de damasco. Mas o que pode ter acontecido foi uma transição do uso de um nome para outro, mas por quê? Segundo James Dunn, Paulo como cidadão romano gozava de privilégios, então desde que Paulo se converteu no apóstolo dos gentios desejava desfrutar de mais liberdade para levar o evangelho ao mundo da época. Desde que Saulo era um nome pouco familiar fora dos círculos judaicos, a transição do uso do seu nome foi um feito natural; assim, Paulo refletia seu compromisso e sua responsabilidade como apóstolo dos gentios.
O Doutor Siegfried Horn afirma que Paulo (Gr. Paulos) é mencionado até Atos 13:9 com o nome de Saulo (Gr. Saulos, do Hebraico Shaul = pedido [a Deus]; Cf. Atos 7:58); e dali em diante só é mencionado como Paulo, exceto no relato que ele mesmo faz de sua conversão (Cf. Atos 22:7,13; 26:14). Horn também sugere que o apóstolo tem dois nomes e que em seus contatos com os judeus talvez usasse o nome hebreu Saulo, e por outro lado usava seu nome greco-romano, Paulus, em contato com os gentios, aos quais desejava evangelizar.
Ma há muita especulação com respeito a isso, e a mais possível talvez seja a que esteja relacionada com o contexto histórico de seu nascimento. Portanto é claro perceber que Paulo expressa seu nome como cidadão romano numa carta para os fiéis cristãos da capital do império, uma igreja de cristãos judeus e gentios. Uma coisa é certa, que sua conversão foi decisiva para que ele mudasse o uso do seu primeiro nome para o segundo, ou seja, Saulo estava relacionado a sua vida farisaica (judia) e Paulo era um nome mais próprio para aproximar-se dos gentios como ele mesmo escreveu; “Me faço fraco para com os fracos [...]”, então eu creio que Paulo estava fazendo-se gentil para ganhar os gentios, com relação ao uso de seu nome num mundo gentílico. Paulo desejava Ter uma nova visão de si mesmo, não mais como Saulo, o fariseu, mas como Paulo, o apóstolo (aquele que foi enviado com uma missão) para os gentios.
Paulo, desde sua juventude recebeu uma educação profundamente religiosa segundo as doutrinas farisaicas. Saulo tinha um orgulho especial por ser fariseu, vivia como um fariseu “conforme a mais rigorosa seita da religião judaica” (Cf. Atos 26:5; Filp. 3:5). Saulo recebeu duas fortes influências para ser um fariseu: a primeira foi a de seu pai, que segundo a indicação do próprio Paulo era talvez um fariseu; a outra por meio da educação que recebeu sob a tutela de Gamaliel I (Cf. Atos 5:34; Atos 23:6). O certo é que Saulo chegou a ser o partidário mais fanático de sua seita (Cf. Atos 5:34), e desta maneira colocou o fundamento para sua futura e enérgica cruzada contra Jesus representado em sua igreja militante (Cf. Atos 9:4). Além de estar envolvido na morte de Estevão (Cf. Atos 7-8:1-3), Paulo foi um feroz perseguidor da nascente igreja cristã.
Como fariseu Paulo considerava Jesus como um impostor, uma vez que acreditava na salvação pelas obras, em recompensa por méritos, no sofrimento purificatório e na graça acrescentada aos méritos próprios, ou seja, a salvação era obra humana ajudada pela graça de Deus quando faltavam ações meritórias.
Entretanto Saulo foi tocado bruscamente no caminho de Damasco, pela aparição de Jesus Cristo, que revelou a ele a verdade da fé cristã e lhe fez conhecer sua missão especial de apóstolo dos gentios (Cf. Atos 9:1-22). É neste ponto que Paulo ou Saulo começa a se transformar em “Servo de Jesus Cristo”.

Servo de Jesus Cristo (Gr. Doulos Cristou Iesou)
Paulo não inicia sua carta aos Romanos com orgulho, ele jogou fora toda exaltação própria ao declarar que era um servo de Jesus Cristo (Gr. Cristou Iesou = Salvador Ungido). Paulo teve toda sua mente e filosofia farisaica de salvação mudada quando encontrou ao seu Senhor. E agora começa escrevendo que é servo, escravo do Senhor dos senhores, Jesus Cristo.
O que Paulo tinha em mente ao escrever a palavra “servo” (Gr. Doulos = escravo)? Estava dizendo que sua personalidade e sua liberdade estavam anuladas? Não tinha mais liberdade para fazer sua própria vontade?
A palavra servo que Paulo usa é no original grego Doulos, que significa escravo; mas Paulo não usa a palavra Doulos como algo comum simplesmente. O que ele deseja dizer é que ele não é mais escravo do farisaísmo cheio de justiça própria, mas agora é escravo do “Senhor Justiça Nossa”. O apóstolo dos gentios se denomina a si mesmo como Doulos de cristo Jesus.
Granfield sugere que o contexto para sua própria designação como escravo está embasado no Antigo Testamento. Para a tradição grega a palavra Doulos tem uma conotação muito negativa. Por outro lado, no Antigo Testamento a palavra é usada com ois sentidos ou significados: revela as relações entre reis e servos, mas também é empregada para mostrar o relacionamento entre o ser humano e Deus. Talvez Paulo esteja tirando a expressão Servo de Jesus Cristo de sua herança judia, uma vez que no Antigo Testamento os judeus se consideravam em geral como servos de Deus, sendo que a aplicação de servo de Deus também é usada em relação a grandes pessoas ou profetas, como por exemplo Moisés.
James Dunn sugere que o uso da palavra servo pelo povo de Israel lhe dava um sentido peculiar e exclusivo de que eles pertenciam somente a Jeová. Ao usar a mesma expressão, não significa que Paulo estivesse pretendendo a mesma posição dos antigos profetas, mas ele talvez estivesse chamando a atenção da igreja em Roma de que ele não pertencia mais a si mesmo e que era tão exclusivo para Deus como pessoa como foi o povo de Israel. Paulo estava dizendo que ele pertencia e dependia do seu Senhor.
Paulo frequentemente usa a palavra Doulos em seus escritos. Colin Brown afirma que o título Servo de Jesus Cristo é usado por Paulo para referir-se a um de seus colegas, Epafras (Cf. Col. 4:12). Brown sugere que a palavra Doulos tem uma ligação próxima com a palavra Diáconos (aquele que serve ou servo). Mas, a palavra Doulos é distinta pois revela um sentido de subordinação, obrigação e responsabilidade para com o seu Senhor.
O conceito Paulino de escravidão está intimamente relacionado ao conceito de liberdade, ao mesmo tempo em que todos somos chamados para a liberdade, somos chamados também para ser servos uns dos outros em amor (CF. Gal. 5:13). O próprio Paulo se faz a si mesmo servo de todos por meio do evangelho (Cf. I Cor. 9:19).
É interessante notar que a frase servo de Jesus cristo é amplamente usada no vocabulário cristão primitivo. Para os apóstolos na liderança da igreja, mas também para a comunidade cristã em geral (Atos 4:29; I Cor. 7:22).
É importante perguntar: Por que Paulo é um escravo? Que status ocupa como Doulos?
Em seu livro “Slavery as Salvation”, Dale Martin informa que na sociedade romana os escravos não ocupavam posições comuns como escravos apenas, mas muitos deles serviam em casas particulares e alguns como escravos livres. Desta maneira podemos imaginar que havia diferentes graus de escravatura e diferentes senhores. Sendo assim, os próprios escravos viviam e estavam em diferentes status.
Quando um escravo era mudado de lugar, mudava também sua situação, a qual podia ser menos ou mais importante. Por exemplo: um escravo no palácio do imperador e um escravo numa casa mais pobre. Resumindo, a situação de um escravo estava relacionada com a autoridade e grandeza de seu senhor. Logo, ser um escravo de Jesus Cristo não é para Paulo uma vergonha ou um status baixo, mas é simplesmente o mais alto lugar de serviço. Seu valor como escravo está ligado a posição de seu senhor. Paulo é um exclusivo escravo de Jesus Cristo (Gr. Iesous Cristou). O que significa ser servo do Senhor? O nome do Senhor é importante nesta relação, “Iesous”, segundo Mouton é a forma grega para o nome Joshua em Hebraico, e foi amplamente usado pelos judeus tanto antes como depois da era cristã. Então era um nome comum, simples, mas Paulo não está falando de um personagem comum, pois este Iesous é o Cristou, que segundo Smith é o Mesias, ou seja, o Ungido do Senhor YHWH. A escravidão de Paulo está intimamente relacionada com o senhorio de Cristo, pois Ele é o Kyrios, aquele que tem poder, autoridade, é mestre, é Senhor, Kyrios é um título divino para Jesus e usado depois de sua ressurreição, Ele é o vitorioso Senhor, Eterno Senhor, Rei dos reis e poderoso Deus. Todavia o Kyrios também vestiu a posição de servo quando assumiu a natureza humana (Cf. Filip. 2:7).
A palavra servo (Gr. Doulos) na luz da cultura greco-romana e dos costumes gregos é mais tarde contrastada com o título familiar usado para os súditos do imperador, como sendo seus escravos, mas Paulo o relaciona não com o imperador, mas sim com Jesus Cristo. Doulos descreve uma absoluta dependência e um total compromisso com o Kyrios e ao mesmo tempo revela a total soberania do Kyrios acima do Doulos. Todavia Paulo não é um servo ou escravo por temor, porque seu serviço está baseado no amor do seu senhor, o qual foi provado e escrito com sangue (CF. Romanos 5:6-8).
Paulo era um escravo de Cristo por amor, se considerava propriedade de Cristo e completamente sob seu controle. No império romano havia uma lei que obrigava ao escravo a estar a mercê absoluta de seu amo, para a vida ou para a morte, estava sujeito ao menor capricho de seu dono. Assim era com Paulo, não havia separação entre ele e Jesus, os dois eram um, a personalidade, o caráter de seu senhor estavam gravados (Gr. Tupos) em Paulo. Uma vez que Jesus o havia comprado com seu sangue e o havia redimido da escravidão do pecado e de seu farisaísmo, agora livre do poder do pecado era um escravo da justiça (Cf. Romanos 6:18). Isso não o conduzia a uma vida independente, pelo contrário, sua liberdade o levava à obediência pela fé em Cristo, Paulo se apresentava ao seu senhor como seu servo (Cf. Romanos 12:11). Por essa razão Kittel afirma que a frase Doulos Iesou Cristou não pode ser separada do entendimento de relacionamento dos cristãos com Cristo. Paulo não é meramente aliado de Jesus Cristo, ou seu súdito, ou seu amigo, pois como escreveu Handley Moule: “a liberdade do evangelho é a cara de prata do mesmo escudo cuja cara de ouro é a vassalagem incondicional ao senhor libertador”. Ser um escravo é terrível no abstrato; ser escravo de Jesus Cristo é o paraíso no concreto. A rendição de si mesmo, efetuada em solidão, é lançar-se ao frio vazio. Mas quando se trata da rendição ao Filho de Deus que nos amou e se entregou a si mesmo por nós (Cf. Gálatas 2:20), é o iluminado volver da alma ao lar, ao centro e à esfera da vida e do poder.
Paulo como Doulos não se relacionava com Cristo numa base legal, jurídica, forense ou meritória como havia feito no farisaísmo. Ele é escravo de Jesus Cristo, um nome pessoal e oficial, ou seja, nosso senhor, nosso profeta, nosso sumo sacerdote e rei, sob o qual Paulo está servindo e seu serviço é baseado em um relacionamento pessoal, em uma fusão de personalidades (Cf. Gálatas 2:20). Com certeza Paulo não estava se declarando independente de Jesus Cristo, e tão pouco superdependente dele, mas sim seu servo particular, seu tesouro particular, herança exclusiva de Deus e sua propriedade definitiva; Paulo estava comprometendo-se com seu Senhor (Kyrios) para sempre como um escravo livre.
Nos tempos de Paulo muitos escravos obtinham sua liberdade e havia várias maneiras de obtê-la, mas os escravos escolhiam ficar com seus senhores e donos pois era mais vantajoso e seguro, ainda eram escravos, mas livres. Outros escolhiam permanecer porque haviam se identificado tão completamente com seus senhores que já não desejavam ir adiante. Paulo desejou ficar com Jesus como seu servo porque também foi chamado; James Edwards sugere que Paulo tirou a expressão “servo” do livro de Isaías capítulo 49 versos 3 e 6, onde Deus fala a respeito de seu servo ao qual Ele enviaria aos gentios para levar sua mensagem de salvação. A própria vida de Paulo foi um comentário deste verso, ele se considerou a si mesmo como o apóstolo dos gentios (Cf. Gálatas 2:9), e seu desejo e aspiração era pregar aos judeus e gentios como “servidor do Messias Jesus”.

Bibliografia:

MOULE, C. G. Handley. Exposición de la Epistola de San Pablo a los Romanos. Buenos Aires: 1924.

EDWARDS, James R. New International Biblical Comentary on the Epistle to the Romans. Massachusetts: Hendrickson Publishers, Vol. 6, 1992.

SIMPSON, A. B. La Epistola a los Romanos. Chile: Imprenta y editorial alianza, 1997.

HORN, Siegfried H. Diccionario Biblico Adventista del Séptimo Dia. Argentina: ACES, Vol. 8, 1995.

DUNN, James D. G. Word Biblical Commentary. Texas: Word Books Publisher, Vol. 38, 1988



DOUTRINA DA REVELAÇÃO - PARTE II


O CONTEXTO HISTÓRICO DA DOUTRINA DA REVELAÇÃO


Por: Jorge Schemes*

I – A TRADIÇÃO CRISTÃ

Na idade média havia os escolásticos que falavam basicamente de três coisas:
1. A existência de Deus.
2. A essência de Deus.
3. Os atributos de Deus.
O mais famoso escolástico foi Thomas de Aquino. A teologia natural surgiu pela via da existência de Deus e sua essência. As portas foram abertas para o racionalismo. Os escolásticos procuravam conhecer a Deus por meio da razão. Para eles há dois caminhos que conduzem a Deus: pelo método descendente e pelo método ascendente.
1. Método descendente – A revelação excede a razão humana. Há as verdades da fé e da revelação. Essas verdades da fé não são contrárias a razão, mas somente por meio da fé se pode chegar até elas.
2. Método ascendente – É possível chegar a Deus por meio da razão.
Thomas de Aquino estabelece uma diferença entre Acire (razão, entender) e Credere (fé, crença). Calvino e Lutero concordaram com os escolásticos que por meio da razão é possível chegar ao conhecimento de Deus, todavia nunca se chegará a um conhecimento completo. Lutero usa fortes expressões para descrever a incapacidade humana de conhecer a Deus em sua essência. Ele diferencia o Deus Absconditus e o Deus Revelatus. Mesmo quando alguém conhece a Deus como Deus Revelatus, Deus permanece um mistério, pois deus não revela sua essência. Mesmo quando Deus se revela, deus permanece escondido.
Toda revelação necessária está contida nas Sagradas Escrituras. A escritura é infalível. Para Lutero, a revelação de deus é uma forma de máscara. Deus em sua natureza e majestade tem que ser deixado de lado, o que nos são os seus atributos e não a sua essência. Calvino tem uma posição semelhante a de Lutero, mas foi mais forte ainda. Para Calvino, a essência de Deus não interessa, nosso interesse prático está nos seus atributos. Podemos conhecer algo de deus por meio da natureza como uma fonte de revelação. Todavia este conhecimento de Deus não depende do homem, pois é sempre posterior e vem depois da revelação de Deus. Há um senso de divindade gravado no ser humano (sensus divinitatis), um sentido de divindade dentro do homem que o acompanha desde a criação. Contudo, depois da queda do homem este sensus divinitatis está em um estado de malícia, obscurecido. Nesta condição o homem não pode conhecer a Deus. O problema está conosco em ver ou não ver a essência de Deus. Para Calvino as escrituras são essenciais, por meio da revelação especial (a Palavra de Deus) e sob a iluminação do Espírito. Assim, para Calvino, o Deus da razão é um falso Deus, pois é o Deus de Aristóteles, composto de puro pensamento, mas não é amor. Assim, conhecer a Deus não depende tanto do intelecto, mas sim do coração humano. Por essa razão a revelação especial é necessária.

II - DEÍSMO

No final do século XVII e início do século XVIII, entram em cena os deístas e surge uma ruptura com a doutrina tradicional acerca da revelação especial. Os deístas criam na razão com profundidade de fé. Com eles a apelação em matéria de fé era feita com a razão e não mais com a revelação. Há uma norma extrabíblica para julgar a fé. Os deístas rejeitam completamente a necessidade da revelação. A religião verdadeira está fundamentada na razão. A ênfase deísta está na transcendência de Deus. O deismo pode ser considerado neste aspecto uma reversão ou volta ao escolasticismo, ou um regresso a crença escolástica da teologia natural, mas com uma diferença fundamental: a revelação especial foi completamente rejeitada. Assim, escolásticos e deístas tinham a mesma postura, porém, os deístas acreditam que a revelação não acrescenta nada que o homem não possa descobrir por meio de suas próprias habilidades. Enquanto os escolásticos defendiam a idéia da teologia natural, os deístas enfatizavam a razão e somente a razão como meio de chegar até Deus, sem a necessidade da revelação especial, rejeitando-a completamente.
As idéias deístas tiveram grande repercussão no Iluminismo, e dentre alguns pensadores destaca-se Emmanuel Kant. Os deístas argumentavam que a razão é independente e não necessita de nenhuma revelação especial. Deus existe porque o mundo necessita de um criador. Assim como um relógio necessita de um relojoeiro. Deus é um criador ausente porque ele não se comunica. Não há necessidade de comunicação divina porque Deus é transcendente, ou seja, Deus criou, mas abandonou a sua criação. Os deístas investiram a razão com uma autoridade suprema e rejeitaram a revelação presente na crença tradicional. A revelação não é mais o critério, mas a razão. Os milagres bíblicos são rejeitados e as doutrinas nada mais são do que erros de observação e um entendimento defeituoso.

III - ILUMINISMO

O Iluminismo foi o maior florescimento do racionalismo, ocorrido no século XVIII. Foi marcado fortemente por uma hostilidade à idéia de uma revelação sobrenatural. E. Kant (1727-1804) foi o personagem pelo qual o Iluminismo atingiu seu clímax. O que é o Iluminismo em síntese? Nada mais é do que a emergência do homem de sua imaturidade; é o homem aprendendo a pensar por si mesmo sem nenhuma dependência de autoridade exterior, quer seja essa autoridade a Bíblia, a Igreja ou o Estado. Kant concordou emm parte com os deístas quando defendeu a idéia de que o conhecimento depende dos sentidos, de noções de tempo e espaço e da relação de causa e efeito. Todavia, uma vez que o conhecimento das coisas materiais é condicionado por tempo e espaço, causa e efeito, então todo conhecimento além da atividade física também depende dos sentidos. Desta maneira, o conhecimento teológico envolve algumas contradições, ou seja: a mente humana não é capaz de conhecer a Deus e nenhum conhecimento metafísico é possível. A mente humana não está preparada para descobrir a Deus, logo, é impossível conhecê-lo. Kant dizia que a mente humana não está equipada para conhecer o metafísico. A razão pura não pode encontrar a Deus. Desta forma, deus tem que ver com a ética, com a vida moral e as demandas morais da vida. Deus só pode ser conhecido pela ética. Kant estava certo ao afirmar que a razão humana não pode conhecer a Deus, todavia para os cristãos o grande obstáculo para isso é o pecado. A teoria Kantiana invalidou qualquer tipo de comunicação vinda de Deus. Kant reduziu a religião aos limites da razão pura. Defendeu uma ética, mas uma ética sem dono do ponto de vista cristão. Para ele religião é razão pura, rejeitando a revelação e dando uma visão humanista. Considerado o maior filósofo do Iluminismo, Kant negou a possibilidade de conhecer a Deus. O Iluminismo teve impactos sobre aspectos da ortodoxia protestante que até agora ainda não foram restaurados.
Frederic Schleiermacher, teólogo alemão (1768-1834) trouxe uma proposta inversa para dentro do cristianismo. O desfio levantado pelo racionalismo foi enfrentado pelo cristianismo com uma outra escola de pensamento, a escola Romancista. Essa categoria filosófica colocava os sentimentos em importância. Schleiermacher pode ser considerado o pai espiritual dos pentecostais, pois enfatizava o subjetivismo e os sentimentos. É considerado o pai da teologia liberal. Schleiermacher era filho de um pai calvinista que era capelão do exército. Desgostoso com o frio racionalismo, em reação tentou revitalizar o cristianismo e reabilitá-lo diante dos intelectuais. Afirmava que religião nada tem que ver com a razão, mas sim com os sentimentos (Gefuhl). Um sentimento filosófico de absoluta dependência de Deus. Religião vem de dentro e não de fora. A ênfase está na imanência e não na transcendência de Deus. Não temos que perceber deus pela razão. Para ele a Bíblia é o resultado dos gênios religiosos e não se trata de revelação. Para Schleiermacher revelação não é a interferência do céu em nosso mundo, pois não há revelação especial, mas é a manifestação do mundo natural. Assim, revelação é uma manifestação do conhecimento dentro do mundo natural; é uma dimensão do conhecimento dentro do mundo natural; revelação é uma descoberta porque emerge, surge, vem de dentro e não de fora. G. Hegel (1770-1831) compartilhava da mesma idéia de Schleiermacher, todavia é mais filosófico. Hegel afirmava que Deus pode ser descoberto independentemente de uma revelação especial. Deus é um conjunto de transcendência (Panteísmo).


*Jorge Schemes:

Bacharel em Teologia Línguas Bíblicas – Grego e Hebraico.

Licenciado em Pedagogia com Habilitação em Séries Inicias e Administração Escolar.

Licenciado em Ciências da Religião.

Pós-Graduado em Interdisciplinaridade e Metodologia do Ensino Superior.

Pós-Graduado em Psicopedagogia Clínica e Institucional.

Professor de Filosofia da Educação e Educação Não-Formal na FEJ – ACE.

Professor de Religião no Instituto de Parapsicologia de Joinville.

Professor de Metodologia Científica na Escola Superior de Teologia e Filosofia do Brasil – ESTEFIB.

Técnico Pedagógico na GEECT - Gerência da Educação, Ciência e Tecnologia de Joinville, SC.

DOUTRINA DA REVELAÇÃO - PARTE I


TEOLOGIA DO ENCONTRO?

Por: Jorge Schemes*

I – CRISE DE AUTORIDADE (CRISE DO SILÊNCIO)

A doutrina da cristologia nos primeiros séculos girava em torno da trindade e da pessoa de cristo. Prova disto foi a escrituração do capítulo um do evangelho de João direcionado a combater as idéias docetistas sobre a natureza de Jesus. Um dos problemas da teologia hoje é que ela é feita na primeira pessoa, mas deve estar embasada na Palavra de Deus. Há grupos hoje que estão se voltando para a negação das doutrinas bíblicas e a bíblia está deixando de ser o centro. A história da igreja tem sido marcada pelas crises, já no século XVI encontramos uma grande crise entre a igreja de Roma e os reformadores seguidores de Lutero. Hoje, no século XXI, a crise tem mais a ver com a doutrina da revelação e inspiração. Desde então nunca mais foi recuperada. O fato é que a teologia moderna tem enfrentado uma crise teológica que atravessa as linhas denominacionais. Alguns teólogos têm conceitos sobre a inspiração que afirmam que nem tudo é inspirado na bíblia. Desta maneira a teologia moderna tem se tornado relativista. E os desafios têm surgido nas correntes centrais do cristianismo. A principal causa da crise moderna tem que ver com a questão da autoridade. Há um silêncio progressivo da bíblia como fonte de autoridade. Desde o Éden tem havido um ataque a autoridade. (Cf. Gênesis 3:1-6). O texto revela que Deus falou (disse), essa é a natureza da autoridade.Todavia, por outro lado o diabo usou a metodologia interpretativa da dúvida: “É assim que Deus tem dito?”, lançando incerteza quanto a natureza da autoridade e incerteza de como deve ser entendida. Este são os dois aspectos do pluralismo teológico. As bases da epistemologia estão estremecidas, afinal, de que fonte a teologia deriva ou tem suas informações?

II – A IMPORTÂNCIA E O LUGAR DA REVELAÇÃO

Essa crise tem que ver com o problema da revelação. Tudo dependerá de nosso conceito de revelação. A questão central tem a ver com a revelação e a inspiração, a autoridade bíblica toca o coração da teologia cristã. O conceito que tivermos do que seja revelação e inspiração afetará todos os outros. Quando Deus não existe e não fala aos seres humanos tudo é permissivo. As melhores respostas diante destes problemas são: 1. Convicção do que se crê; 2. Uma resposta rápida aos erros teológicos. O pluralismo teológico é o grande problema hoje. A ciência é exata, certa e objetiva, contudo as questões éticas e morais são prioridade lógica da doutrina da revelação e da inspiração. O cristianismo depende da revelação de Deus, pois o conhecemos como Ele se revela a nós, não como Deus é. A própria teologia só é possível a partir do conhecimento revelado por Ele. A teologia é diferente das outras ciências, nas ciências o investigador se coloca acima de suas investigações e objetos de estudo, na teologia o investigador se coloca abaixo de suas investigações e objeto de estudo, ou seja, o próprio Deus. Desta maneira, na teologia o sujeito é Deus e o teólogo o objeto. Até o século XIX a teologia era a rainha das matérias, hoje é um reino sem trono. O fato é que não podemos entender a Deus em nossos termos, mas conhecemos a Deus como Ele se revelou, não como nós pretendemos. Alguns querem colocar Deus em sua cabecinha quadrada limitando-o, desejam saber de baixo para cima, porém, deus é que se revela, é Ele que disse quem Ele é. Deus se revela envolto em mistérios.

III – A REVELAÇÃO NA TRADIÇÃO CRISTÃ

Há três fatos a serem considerados: Primeiro: Deus é insondável; Segundo: Deus deve ser conhecido; Terceiro: O paradoxo deve ser superado. O entendimento de Deus tem sido apresentado com duas afirmações aparentemente contraditórias: Primeira: Deus é incognoscível e insondável. (Cf. Jó 11:7; Isaias 55:8, 9; I Coríntios 2:11; Romanos 11:33,34). Deus permanece fora dos limites humanos, não há nenhum caminho do homem até Deus. Segunda: O Deus que é insondável deve ser conhecido (Cf. São João 17:3; Oséias 6:3). O conhecimento de deus é vital e necessário. É um conhecimento fundamental, porque dele depende a vida eterna. Conhecimento na bíblia não é algo apenas intelectual, mas vivencial, não é algo apenas da cabeça, mas do coração. No pensamento hebraico recordar é uma função da memória e da prática, uma prática de uma teoria, assim, conhecer a deus é uma prática. Todavia, Deus toma a iniciativa e vem até nós, deus se auto-revela, isso é revelação. Aquele que é insondável revela-se a si mesmo, o homem não pode conhecer a Deus por si mesmo, nós temos que nos aproximar de deus em seus termos e não nos nossos termos. Deus não é conhecido em si mesmo mas na revelação que Ele mesmo faz de si, assim, o conhecimento de deus é limitado. A teologia cristã não pretende estudar Deus em sua essência, mas na revelação que Ele mesmo tem feito de si mesmo.

IV – O QUE É REVELAÇÃO?

Segundo o dicionário, revelação é abrir, pôr diante a vista, expor, manifestar. A palavra revelação vem do latim re-velo que significa afastar do véu; Deus tem afastado o véu. Revelação não tem que ver com o conhecimento que alguém pode obter ou teve no passado e perdeu, mas tem que ver com a iniciativa humana. A grande arrogância humana é pensar que apenas pela razão é possível chegar ao conhecimento de Deus (Racionalismo). A razão tem seu lugar. O conteúdo da revelação deve ser falado mais do que nunca, como nunca foi falado. (Cf. Mateus 16:16). Tu és o filho de Deus? Quem revelou? Não foi carne nem sangue, mas o Espírito.

V – REVELAÇÃO CONCEITUAL

Ou seja, em forma de um conteúdo, ou que tem conteúdo. Tradicionalmente entendida como comunicação de informação. Deus tem comunicado aquilo que deseja que o homem saiba a Seu respeito. A tradição manteve a posição de que a revelação tem um conteúdo, Deus tem feito uma comunicação com a mente do ser humano. Deus se comunica com a razão humana, a revelação é compreendida pela razão humana. Por isso é uma revelação conceitual.

VI – A TRADIÇÃO FOI DESAFIADA

O desafio que existe hoje é entre a revelação conceitual e a revelação com ênfase subjetivista, ou seja, é o que eu penso acerca de Deus que define a revelação e não o que Ele revelou. Essa concepção subjetiva de Deus é uma concepção existencialista. O argumento defendido é de que a idéia tradicional não é aceitável, pois não oferece um encontro pessoal com Deus. Deus não dá uma comunicação de informação, mas nos dá a Ele mesmo. O profeta sente sua presença, mas não recebe nenhuma informação (conteúdo). A bíblia não é a palavra de Deus, mas se torna a palavra de Deus quando você aceita a palavra. Há um subjetivismo que é válido, mesmo que vá contra a palavra de Deus. Segundo essa concepção, Deus não nos dá informações por meio da revelação, porém nos dá a si mesmo. Não há informações (conteúdos), pois o próprio Deus é revelado na revelação. Assim, revelação neste caso é um encontro com Deus. A revelação toma lugar na experiência subjetiva do homem e não no livro sagrado, a bíblia. Não está limitada a um depósito de verdades, desta maneira, a bíblia não é verdade em si mesma, objetivamente, pois as revelações subjetivas não comunicam verdades racionais, verbais e com conteúdos, por isso a revelação continua ocorrendo. Essa é a teologia do encontro subjetivo e sem conteúdo informativo.

VII – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto teológico faz-se necessário uma reflexão sobre a importância da revelação escrita, a revelação especial de Deus aos homens. Minha proposta como teólogo é desenvolver uma análise com argumentação a favor da revelação conceitual, mostrando os perigos da teologia do encontro subjetivo. A relativização das verdades reveladas por Deus segundo os seus termos são um perigo para o cristianismo atual, e por essa razão uma apologia da fé de nossos antepassados mortos como mártires em defesa da fé revelada na palavra de Deus é fundamental. Deus disse, está escrito, são expressões que revelam a autoridade da revelação divina. Tanto no Antigo Testamento quanto no Novo Testamento a autoridade é a mesma, a palavra é a mesma, tem o mesmo poder e não sofre nenhum grau de fossilização.

Jorge Schemes – Teólogo e Cientista Religioso