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REFLEXÃO PARA O ANO NOVO
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A ARQUEOLOGIA E A BÍBLIA
A Arqueologia e a Bíblia
Por: Zeljko Gregor
Por: Zeljko Gregor
Obelisco Negro (1845), a Pedra Moabita (1868) e os Manuscritos do Mar Morto (1947) são grandes nomes na história da arqueologia bíblica. Mas chegou esta história a seu fim? Não, de modo algum.
Nas últimas décadas, diversos selos, impressões de selos, caixas de ossos e outros artefatos antigos têm vindo à luz —alguns deles em museus, alguns em coleções particulares e outros de escavações recentes. Essas preciosidades arqueológicas têm lançado mais luz sobre vários indivíduos e acontecimentos até há pouco só mencionados no texto bíblico. Este artigo vai recapitular alguns desses achados recentes.
O Anel de Hanan:
De propriedade de um colecionador em Paris, este anel valioso é conhecido do mundo acadêmico desde 1984. A origem do selo é desconhecida, mas a forma das letras indica que foi usado durante o século VII A.C. O selo tem uma inscrição de três linhas, cada linha separada por duas linhas paralelas. O anel é quase de um décimo de polegada de diâmetro, sugerindo que foi feito para um dedo masculino. A inscrição lê: “Pertencente a Hanan, filho de Hilqiyahu, o sacerdote”.
Este Hilqiyahu é melhor conhecido como Hilkias, o sumo sacerdote durante o reinado de Josias, rei de Judá na última parte do sétimo século A.C. A terminação yahu é um elemento teofórico (divino), amiúde achado em nomes hebraicos antigos em Judá; os nomes no Reino do Norte levavam a terminação yah. Parece que este Hilqiyahu foi o mesmo sumo sacerdote que descobriu no templo o rolo da lei que desengatilhou uma reforma religiosa em Judá (ver II Reis 22; II Crônicas 34).
I Crônicas 6:13 e 9:11 indicam que Azarias, não Hanan, sucedeu a Hilkias. A explicação podia ser que Azarias sucedeu a seu pai como sumo sacerdote, enquanto seu irmão mais moço, Hanan, funcionava como sacerdote, justamente como a inscrição no selo sugere.
O nome de Azarias, todavia, aparece em outra bulla (impressão de um selo) achado em 1978, durante a escavação de Yigal Shiloh, na velha Jerusalém. A inscrição consiste em duas linhas de escrita separadas por duas linhas paralelas. Reza: “Pertencente a Azaryahu, filho de Hilkiyahu”. A impressão não menciona o título do dono.
A impressão do selo de Baruch:
Em 1975, 250 bulas apareceram em Jerusalém na loja de um negociante de antiguidades árabe. A maior parte delas foi comprada por diversos colecionadores, e quase 50 se acham agora no Museu de Israel, enquanto outras podem ser estudadas por especialistas. Todas essas impressões de selos são datadas do fim do sétimo ou do começo do sexto século A.C, justamente antes da destruição de Jerusalém.
Entre essas impressões, três pertencem a indivíduos mencionados em Jeremias (Baruch, o escriba; Yerahme’el, o filho do rei; Elishama, servo do rei). Os três indivíduos parecem ser contemporâneos, vivendo em Judá justamente antes do exílio. Durante aquele tempo turbulento, Judá era governada pelo rei Jeoaquim. Jeremias 36.
A Bíblia nos diz que Deus instruiu Jeremias a escrever um rolo com uma profecia contra o rei. O secretário de Jeremias, Baruque, escreveu tudo que Jeremias lhe ditou. Depois de ler o rolo no templo, Baruque foi instruído a lê-lo de novo perante altos funcionários da corte real. Esses funcionários (Elishama era um deles) eram até certo ponto simpáticos à mensagem, mas temiam por Baruque. Aconselharam-no a se esconder. Jeremias 36:19. Quando o rolo foi lido perante o rei, ele ordenou que fosse destruído e Yerehme’el, com outros dois funcionários, recebeu ordem de prender Baruque e o profeta Jeremias.
A impressão que leva o nome de Elishama é feita de duas linhas de escrita separadas por duas linhas retas paralelas. A primeira reza: “Pertencente a Elishama”; a segunda dá seu título, “servo do rei”. A impressão de Yerahme’el consta de duas linhas também, dando o nome e o título do dono: “Pertencente a Yerahme’el, filho do rei”. A impressão do selo de Baruque consta de três partes, divididas por duas linhas retas paralelas, que rezam: “Pertencente a Bereqhyahu, filho de Neriyahu, o escriba”.
Uma outra bula, com o nome de Baruque, apareceu em 1995. É idéntica à descrita acima, exceto por uma diferença significativa: tinha uma impressão digital que podia ser de Baruque.
Uma terceira impressão de selo que suporta a conexão de Baruque foi achada entre as muitas descobertas na escavação em Jerusalém, em 1978, por Yigal Shiloh. Esta, datada do fim do sétimo e do começo do sexto século A.C., reza “Pertencente a Gemaryahy, filho de Shaphan”. A Bíblia diz que quando Baruque foi ao templo para ler o rolo, ele o leu na câmara de Gemariah, o filho de Shaphan. Jeremias 36:10.
Selo de Abdi:
Comprado em 1993 por um colecionador particular de Londres, o selo de Abdi está entre os mais raros. Sua inscrição reza: “Pertencente a Abdi servo de Hoshea”. O selo é datado do oitavo século A.C. O nome Abdi é o mesmo que Obadias. A Bíblia se refere a três Obadias: o primeiro ministro de Acabe, I Reis 18:3; um profeta e um oficial de Hoshea. É improvável que este selo pertencesse a um dos primeiros dois indivíduos, porque o selo associa o nome com Hoshea, o rei sob o qual o dono do selo servia como oficial. Hoshea foi o último rei de Israel. II Reis 17:1-6. Reinou de 731-722 A.C., quando os assírios destruíram o reino.
A inscrição de Dan:
Começando em 1966, Avraham Biran escavou o sítio arqueológico de Tel Dan por vários anos, e a descoberta mais importante ocorreu em 1993, quando sua equipe removia o entulho da área do portão da cidade.5 Parte da muralha, destruída por Tiglate-pileser III em 733/732 A.C., continha um fragmento de um monumento inscrito.
Infelizmente, o fragmento contém uma mensagem incompleta. Tem 14 linhas incompletas escritas em hebraico arcaico, a escrita usada antes do exílio (586 A.C.). As palavras eram separadas por pontos e a inscrição reza como segue:
(2) ...meu pai subiu
(3) ...e meu pai morreu, ele foi para...
(4) real outrora na terra de meu pai...
(5) Eu (lutei contra Israel ?) e Hadad foi diante de mim...
(6) ...meu rei. E eu matei de (entre eles) X infantes, Y char-
(7) retes e dois mil cavaleiros...
(8) o rei de Israel. E matou (...o parente)
(9) g da casa de Davi. E eu pus...
(10) sua terra ...
(11) outro...(ru)
(12) conduziu contra is(rael...)
(13) sítio contra...
O autor desta inscrição pretende que Hadad foi adiante dele, supostamente na batalha. Hadad é o deus arameu da tempestade, e é provável que o dono desse monumento fosse um arameu. Que ele não é o rei é óbvio com base na linha 6, onde ele se refere a “meu rei”. Ele é ou um comandante militar ou um rei vassalo, um devoto de Hadad e subordinado ao rei de Damasco. Todavia, as linhas mais importantes são 8 e 9, onde Israel e a “Casa de Davi” são mencionadas. Esta é a primeira referência à frase: “Casa de Davi”, fora da Bíblia.
Baseado na forma das letras, Biran sugeriu que a inscrição vem da primeira metade do século nono A.C. Ademais, a cerâmica encontrada debaixo do fragmento também indica que foi aí colocada antes da metade do século nono, sugerindo que o monumento foi erigido algumas décadas antes.
Visto a inscrição se achar fragmentada, não sabemos os nomes dos reis de Israel ou de Judá. Isto é ainda mais complicado pelo fato de que o nome do rei arameu não sobreviveu. Por conseguinte, é difícil reconstruir a história exata dos acontecimentos e achar uma conexão bíblica sólida. Todavia, é possível que Dan tenha experimentado anos turbulentos entre c. 885 A.C., quando foi capturada por Benhadad I, I Reis 15:20 e c. 855 A.C., quando Acabe a recebeu de volta de Benhadad II. I Reis 20:34.
Pouco depois de Benhadad ter capturado Dan, é possível que Israel tenha recuperado o controle de Dan. Durante os primeiros dias de Acabe, Dan foi ocupada de novo pelos arameus (provavelmente o dono do monumento), e mais tarde Acabe recebeu-a de volta de Benhadad II. Acabe pode ter destruído então o monumento e usado alguns dos pedaços como material de construção. Isto, todavia, é uma mera reconstrução hipotética, e fragmentos adicionais do mesmo monumento serão necessários para se ter uma melhor idéia dos fatos históricos relacionados com a antiga Dan.
Rolo de prata:
Entre 1975 e 1980, Gabriel Barkay6 descobriu alguns sepulcros em Jerusalém. A maior parte deles, todavia, tinha sido saqueada havia muito, exceto um, Nº 25. O sepulcro foi datado do fim do sétimo ou começo do sexto século A.C., justamente antes do exílio. O sepulcro continha restos de esqueletos de 95 pessoas, 263 vasos de cerâmica inteiros, 101 peças de joalheria (95 de prata, 6 de ouro), muitos objetos esculpidos de osso e marfim e 41 pontas de flechas de bronze ou de ferro. Além disso, havia dois pequenos rolos de prata. Um deles tinha cerca de uma polegada de comprimento e menos de meia polegada de espessura, enquanto que o outro tinha meia polegada de comprimento e um quinto de polegada de espessura. Admitiu-se que esses rolos fôssem usados como amuletos e que contivessem alguma inscrição.
Quando os rolos foram abertos e limpos, a inscrição continha porções de Números 6:24-26: “O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti... e te dê a paz”. Esta inscrição é uma das mais antigas e melhor preservadas contendo o nome de Jeová.
A inscrição de Herodes:
Em 1996, Ehud Netzer descobriu em Masada um pedaço de vaso com uma inscrição, um óstraco. Este pedaço tinha o nome de Herodes e era parte de uma ânfora usada para o provável transporte de vinho, datada de c.19 A.C.
A inscrição é em latim e reza: “Herodes, o Grande Rei dos Judeus (ou Judéia)”, a primeira a mencionar o título do Rei Herodes.
Barco da Galiléia:
Por causa de uma seca severa durante 1985 e 1986, o nível do Mar da Galiléia estava consideravelmente mais baixo do que o normal. Shelley Wachmann, perito em arqueologia submarina, organizou uma operação de salvamento7 do que parecia o esboço de um barco. Depois de muitos dias de luta contra as águas do mar, o barco foi completamento escavado e removido para conservação.
Durante a escavação, os arqueólogos acharam vários objetos (vasos de cerâmica, pontas de flechas, moedas) dentro e em volta do barco. Um exame dos artefatos sugere uma data aproximada para o barco; podia ter estado em uso entre o final do primeiro século A.C. e a segunda metade do primeiro século d.C. Além da datação pelos artefatos, os escavadores mandaram amostras para um laboratório para datação por Carbono 14. Esses testes sugeriram uma data semelhante.
Segundo o historiador Josefo, essa parte da Palestina passou por uma severa turbulência e destruição durante a primeira revolta judaica (67-70 D.C.). Durante o primeiro ano da revolta, os judeus prepararam uma frota de barcos de pesca em Migdal. Depois que Tiberíades caiu nas mãos de Vespasiano, os romanos construíram um campo fortificado entre Tiberíades e Migdal. À noite, os judeus lançaram um ataque de surpresa, e então escaparam para o Mar da Galiléia. No dia seguinte, a frota romana atacou os judeus no mar, empurrando-os para a margem, onde foram massacrados. O número de mortos foi calculado em 6.700.
O barco tinha 26,5 pés de comprimento, 7,5 pés de largura e 4,5 pés de altura. Os arqueólogos sugerem que foi construído para levar até 15 pessoas. Um barco como esse podia facilmente ter acomodado Jesus e Seus discípulos em suas muitas viagens através do Mar da Galiléia.
O nome de Caifás numa caixa de ossos:
No mês de novembro de 1990, uma caverna sepulcral foi descoberta na Floresta da Paz, ao sul de Jerusalém. Os escavadores acharam8 vários ossuários ou caixas de ossos, algumas viradas de cabeça para baixo (sinal de que a caverna tinha sido arrombada); todavia, algumas ainda no lugar onde tinham sido postas originalmente. A escavação produziu ossos de seis diferentes indivíduos: duas crianças (2 a 5 anos de idade), um menino de 15 anos, uma mulher adulta e um velho de cerca de sessenta anos. No tempo de Jesus, os judeus tinham o costume de usar esses ossuários para um segundo enterro dos restos de seus mortos. O corpo era colocado numa caverna para decompor, e então os ossos eram postos numa caixa ou ossuário.
Dois dos ossuários tinham tampas. Estas tampas eram feitas de pedra calcárea e eram de maior valor que as outras porque tinham o nome de Caifás inscrito no lado mais estreito de cada caixa. Uma dessas caixas era lindamente esculpida, indicando que pertencia a uma pessoa importante e rica. A inscrição rezava: “Joseph, filho de Caifás”. Isto não indica necessariamente que Caifás era um parente próximo de José. Caifás pode ser um nome de família.
Os ossos do velho eram provavelmente do homem chamado José. Infelizmente, a Bíblia não dá o nome real do sumo sacerdote por ocasião do julgamento de Jesus. Dá-nos apenas a versão grega de Caifás. Contudo, Josefo menciona o nome completo: Joseph Caiaphas, que serviu como sumo sacerdote de 18 a 36 D.C.
O envolvimento da Andrews University:
A Andrews University tem feito escavações na Palestina desde o final de 1960, quando Tell Hesban foi escavada sob a direção do falecido Siegfried Horn. Depois da escavação ter sido completada no final de 1970, a Andrews University começou uma outra operação sob o nome de MPP, o Projeto das Planicies de Madaba. O alvo principal foi Tell el-Umeiri, um sítio ao sul de Amman, capital da Jordânia. Durante a primeira temporada de escavações em 1984, acharam uma impressão de selo interessante. Simplesmente reza: “Pertencente a Milkom’or o servo de Ba’alyasha”. Na Bíblia hebraica, esse nome é soletrado um pouco diferente (Ba’alis). É mencionado apenas uma vez e representa o nome de um rei amonita. Jeremias 40:14. Antes desta descoberta, Ba’lyasha (Baalis) era conhecido somente pelo texto bíblico.
Tell el-Umeiri era uma das cidades rubenitas. Depois de várias temporadas, os escavadores descobriram um sistema de fortificação feito de paredes duplas, baluarte e uma valeta seca na base do sítio. Essa fortificação do período inicial do Ferro I (c.1200 A.C.) é a mais bem preservada em toda a Palestina.
Além de Tell el-Umeiri, o time da MPP iniciou a escavação de outro sítio importante, Tell Jalul, em 1992. Este é um dos maiores sítios na Transjordânia. Depois de várias temporadas de escavações, o time descobriu uma estrada pavimentada que levava ao portão da cidade (século 9º/ 8º A.C), e um grande edifício com colunas (7º/6º século A.C.), que se crê seja um armazém. É possível que esse sítio fosse a Hesbom do rei Seom, destruída pelos israelitas no tempo da conquista.
Descobertas arqueológicas como essas, que ocorreram nos últimos anos, continuam a enriquecer nossa compreensão da Bíblia e fortalecem nossa confiança em seu conteúdo como um documento histórico digno de confiança.
Sobre o autor: Nascido na Croácia, Zeljko Gregor (Ph.D., Andrews University) é um especialista em Arqueologia Bíblica. Escreveu recentemente vários artigos para Eerdmans Dicitionary of the Bible (1997). Seu endereço: 4766-1 Timberland; Berrien Springs, MI 49103; E.U.A. E-mail: gregor@andrews.edu
Notas e referências:
1. Josette Elayi, “Name of Deuteronomy’s Author Found on Seal Ring,” Biblical Archaeology Review 13 (1987), págs. 54-56.
2. Yigal Shiloh, “A Group of Hebrew Bullae From the City of David,” Israel Exploration Journal 36 (1986), págs. 16-38.
3. Hershel Shanks, “Fingerprint of Jeremiah’s Scribe,” Biblical Archaeology Review 22 (1996), págs. 36-38.
4. Andre Lemaire, “Name of Israel’s Last King Surfaces in a Private Collection,” Biblical Archaeology Review 21 (1995), págs. 48-52.
5. Avraham Biram e Joseph Naveh, “An Aramaic Stele Fragment from Tel Dan,” Israel Exploration Journal 43 (1993), págs. 81-98.
6. Gabriel Barkay, Ketef Hinnom: A Treasure Facing Jerusalem’s Walls (Jerusalem: The Israel Museum, 1986).
7. Shelley Wachmann, “The Galilee Boat”, Biblical Archaeology Review 14:5 (1988), págs. 18-33; e Claire Peachey, “Model Building in Nautical Archaeology; The Kinnereth Boat”, Biblical Archaeologist 53:1 (1990), págs. 46-53.
8. Zvi Greenhut, “Burial Cave of the Caiaphas’ Family”, Biblical Archaeology Review 18:5 (1992), págs. 29-36; e Ronny Reich, “Caiaphas’ Name Inscribed on Bone Box”, Biblical Archaelogy Review 18:5 (1992), págs. 38-44.
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DOUTRINA DA REVELAÇÃO - PARTE V

REVELAÇÃO ESPECIAL
Por: Jorge Schemes
1. A Necessidade:
Mesmo antes da queda a revelação especial foi necessária em alguns aspectos. Precisamos refletir que a revelação geral não era suficiente, e após a queda a natureza humana foi obscurecida pelo pecado. O homem não pode fazer uma leitura correta da natureza quando está obscurecido pelo pecado, por isso, na qualidade de crentes não precisamos nos inquietar com o que dizem os paleontólogos e biólogos em suas conjecturas e teorias. A leitura da natureza está obscurecida pelo pecado. A revelação geral pode indicar a existência de Deus, mas não pode ir mais além, pois se Deus não “falasse” a nós, ainda permaneceríamos em trevas. Para os homens pós-iluministas, adeptos do cientificismo, educados para não aceitar a idéia do sobrenatural, a revelação geral e especial simplesmente são ignoradas. Até mesmo alguns teólogos têm negado o sobrenatural. São teólogos da alta crítica que rejeitam o sobrenatural. Assim, muitos teólogos têm negado o sobrenatural. Para muitos destes teólogos temos que desmistificar a bíblia, pois os mitos fazem parte do passado. Desta maneira, podemos detectar três faces na negação da revelação especial, ou seja: 1. Metafísica – com os filósofos da idade média; 2. Teológica – com os teólogos da alta crítica colocando a bíblia como um livro que aborda o passado histórico sem o sobrenatural; 3. Científica – com o cientificismo tecnológico de nossos dias.
Contudo, apesar de trazer enormes contribuições para a humanidade, a ciência não tem solucionado os problemas básicos dos seres humanos. Há algumas questões que impõem uma certa limitação a ciência, ou seja: Há Deus? Ele pode ser conhecido? Qual é a autoridade da vida? Que é a morte? O homem não pode ser a solução para estas questões, a solução tem que vir de uma autoridade fora dele. Quanto a pergunta: é possível conhecer a Deus? Somente a sua personalidade pode ser parcialmente conhecida por meio da revelação especial. A pessoa é que se revela a nós, se Deus não fala não há maneira de conhecê-lo. Por essa razão as questões finais da vida só podem ser respondidas por aquele que é o autor da vida. A fé me leva a liberdade. Há um magnetismo em Jesus Cristo que homem algum é capaz de explicar. Apenas Deus pode satisfazer os problemas humanos. A bíblia como revelação especial apresenta respostas às questões que tem a ver com os dilemas humanos relacionados a origem (de onde vimos?), propósito (porque estamos aqui?), destino (para onde vamos?). Somente o conhecimento de Deus pode tirar as pessoas das trevas. Na bíblia encontramos mais de 359 vezes a expressão “assim diz o Senhor”. Deus falou por meio de muitas formas (Cf. Hebreus 1:1). Deus se revelou como um Deus pessoal e fez suas revelações pessoalmente. Porém, o mundo secularizado não crê na palavra de deus como fonte de revelação. Há uma verdadeira desinformação a respeito do cristianismo básico. E por outro lado há também uma informação equivocada do cristianismo que contém muitos erros.
Há um lugar dentro deste contexto para pensarmos no direito da autovalidação. Consideremos algumas proposições: 1. Cada pessoa tem o direito de falar por si (Cf. S. João 5:31). 2. Algumas verdades não poderiam ser conhecidas se não por meio de Deus, que as conhece em primeira instância. 3. Se não podemos acreditar completamente naquilo que a bíblia fala de si, então não podemos crer em nenhuma outra coisa do que a bíblia fala. 4. A bíblia não apenas diz que é a palavra de Deus, ela de fato é a palavra de Deus (temos o direito de usar a apologia para defender a palavra de Deus). 5. A pessoa de Cristo (Cf. Mateus 16:15 e 16), se Jesus disse quem é, o filho de Deus, ele não pode ser comparado com outro. Logo, suas doutrinas são normativas.
2. O Caráter Dinâmico da Revelação:
Quando os escritores da bíblia falam a respeito da revelação de Deus, falam freqüentemente da palavra de Deus (YHWH), (Cf. I Samuel 3:21; Gênesis 15:1; II Samuel 7:4). Os profetas usam a expressão: “DABAR YHWH” (A Palavra de Javé), (Cf. Amós 1:1). Nas introduções dos livros proféticos de Jeremias e Ezequiel é freqüente a expressão DABAR YHWH. Em Salmos 36:6 a palavra de Deus está relacionada a criação, o que revela que é uma palavra dinâmica e tem um conteúdo. Em Gênesis 1:1 a palavra BARAH (criar) revela dinamicidade, pois se refere a criar do nada (sem matéria). Jeremias 8:9 revela uma distinção entre o que Deus diz e o que disseram os homens educados de seus dias. A palavra hebraica DABAR é usada no Antigo Testamento para designar: palavra, conceito, matéria, conteúdo, mandamentos. O discurso é a mais clara expressão do pensamento. Assim é com Deus, seu pensamento é expresso de várias formas por meio de sua palavra. O paralelismo hebraico e grego tem a palavra como algo vivo. A palavra é o sopro, o discurso de Deus que leva o seu poder. É uma palavra que tem o poder de criar do nada as coisas materiais. A palavra grega RHEMA é usada no Novo Testamento como sinônima de DABAR (Cf. Septuaginta, Hebreus 11:3). Assim com DABAR, RHEMA significa: palavra, conceito, conteúdo. (Cf. Gênesis 18:4 = DABAR; Lucas 1:37; 2:15 = RHEMA). Em alguns lugares RHEMA significa as promessas de Deus (Cf. Romanos 9:6). RHEMA THEOU (a palavra de Deus tem conteúdo), (Cf. Atos 4:31; 13:46; 17:13; Colos. 1:25). A palavra grega LOGOS usada no prólogo do evangelho de João é a mais distintiva e está repleta de significados. LOGOS significa muito mais do que verbo. É o pensamento e a razão por trás, é uma transição entre a cultura grega e judaica e agora é repleta de significados. Enquanto DABAR fala do poder de Deus, LOGOS, usada por João é a palavra de Deus presente na segunda criação. Jesus encarna as qualidades da palavra DABAR. Ele é o LOGOS (encarnação da palavra). Jesus é o que ele nos oferece. Em Jesus a completa revelação da palavra acontece.
A palavra de Deus é uma revelação. O agente da primeira criação é o mesmo da segunda. Esta palavra não é somente poder, mas autoridade também. A revelação é poder e autoridade. (Cf. Isaías 52:10, 53:1). Revelar não é algo estático, mas algo repleto de poder. A palavra de Deus não é apenas conceitos. Como escreveu Paulo, “o evangelho é o poder de Deus”. Desta maneira, revelação é uma ação de poder e autoridade originada em Deus. Não é somente um conduto, mas é o seu poder. A proclamação pode transformar as situações. Deus existe, e como Deus existe ele se comunica, assim, há uma revelação especial em sua palavra. Apesar das escrituras sagradas não apresentarem informações detalhadas de como a revelação ocorreu, elas nos apresentam um testemunho conclusivo. (Cf. II Timóteo 3:16). Em Daniel 2:20 a 22 está escrito que Deus revela o profundo e o escondido, há um conteúdo na revelação de Deus. Deus não é apenas o revelador, mas o objeto da revelação também. Deus revela a si mesmo, ele é o objeto/sujeito da revelação. Deus revela um conteúdo e a si mesmo. (Cf. I Samuel 3:21). Deus revela informações e conteúdos. (Cf. Deuteronômio 29:29). Deus revela sua glória. (Cf. Isaías 40:5, Romanos 8:8). Deus revela sua justiça, sua ira, enfim, seus atributos (antropomorfismo). Revelar e revelação estão juntos com atos e doutrinas. “Deus não fará coisa alguma, sem antes revelar seus segredos aos seus servos os profetas” - Amós 3:7. A palavra segredos no hebraico é SODH, e significa aquilo que se discute em uma assembléia. Em revelação Deus anunciou o destino de Tiro; o profeta Daniel usa a mesma palavra no capítulo 10:1 (o conflito entre Grécia e Pérsia). No Novo Testamento o evangelho foi revelado. Paulo, o apóstolo, recebeu o evangelho por meio da revelação, o mistério que foi revelado (Cf. Gálatas 1:11, Efésios 3:4, 5). Estes textos apontam para duas verdades importantes: nenhum homem produziu a revelação e a revelação tem um conteúdo.
3. Características da Revelação Especial:
A revelação especial é indispensável, pois o homem é pecador. A revelação especial é sempre uma iniciativa de Deus, a qual vem a pessoas específicas escolhidas por ele. A revelação especial ocorre em situações concretas, ou seja, leva em consideração a cultura e a pessoa. Tem um aspecto antrópico porque Deus fala de onde o ser humano está. Deus usa a língua das pessoas e não a linguagem do céu (antropia). Desta maneira, a bíblia como revelação especial não foi infectada pela humanidade, mas foi afetada pela humanidade manifestada no ser. A revelação especial é remediadora, somadora e redentora. Os teólogos falam de diferentes nomes quando se referem a revelação especial, vejamos alguns:
1. Revelação MEDIADA, porque usa um meio, há um meio.
2. Revelação CÓSMICA, porque ela deve entrar em nosso mundo; (Abraham Kyeper).
3. Revelação SACRAMENTAL, porque é Deus quem utiliza as coisas da nossa realidade como sinais exteriores para comunicar verdades eternas; (Calvino, Lutero e Barth).
4. Revelação ANTRÓPICA, porque Deus se ajusta a nós e a nossa realidade, há uma condescendência divina; (Bernard Ramm).
5. Revelação ORGÂNICA, porque apresenta um conteúdo; (Berckauwer).
6. Revelação DINÂMICA, porque é acompanhada de poder e conteúdo; (IASD).
Diante do exposto nesta série de artigos, surge uma pergunta: é a revelação especial proposicional (conteudista) ou apenas um encontro? A neo-ortodoxia tem negado e rejeitado o aspecto proposicional da revelação e alegado que se trata de um encontro. Tradicionalmente a igreja de Cristo aceita que ela é proposicional (contém proposições, conteúdos). Mas, o que diz a bíblia? A palavra é a autoridade final. Tanto a posição tradicional quanto a neo-ortodoxia concordam em alguns pontos: que a revelação especial começa com Deus e é necessária, porém para a teologia tradicional há um conteúdo, enquanto para a neo-ortodoxia há apenas um encontro. O fato é que Deus revela o mistério (Cf. Daniel 2:20, 22, 46,47). As frases mais comuns no Antigo Testamento são: “disse Deus, a palavra de Deus veio a mim, assim diz o Senhor, ouvi a palavra do Senhor”. Em Gênesis 11:7 o verbo ouvir significa entender, o que demonstra que era algo que tinha conteúdo. (Cf. Mateus 11:25, 27, Efésios 3:1 a 3). Com certeza na revelação especial ocorre um encontro, mas há comunicação do conhecimento. O cristianismo é um encontro com Deus, mas há neste encontro um conteúdo.

REFLEXÃO: QUANDO NÃO HÁ ESPERANÇA
QUANDO NÃO HÁ ESPERANÇA...
Por: Jorge Schemes
Por: Jorge Schemes
Desânimo, frustração, desapontamento e sentimento de solidão, tudo isso acompanha aqueles que perderam a esperança. São pessoas sem crença, sem fé e vazias porque não podem ver além. Milhares hoje vivem sem esperança de melhoras, sem esperança de viver por muito tempo, sem esperança de salvação. Até mesmo os discípulos de Jesus tiveram este sentimento porque lhes faltaram a fé e a esperança quando presenciaram as cenas finais que envolveram a vida do salvador. Os discípulos no caminho de Emaús estavam sobrecarregados com a falta de fé e totalmente desesperançados a ponto de exclamarem com o coração cheio de tristeza: “e nós pensávamos que fosse ele que remiria Israel!”. (Cf. Lucas 24:13-24).
O fato é que longe de Deus não pode haver esperança. Você já viveu sem Deus algum dia? Todos nós já experimentamos a separação causada pelo pecado entre nós e Deus. Está escrito: “Naquele tempo, estáveis sem cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo”. Essa era a situação de muitos, milhares nos dias de Jesus; aquele foi um dos momentos mais sombrio da história da humanidade, onde a fisionomia dos homens deixava transparecer sofrimento, miséria, dor, desespero, falta de fé, e, em muitos estava estampada a fisionomia de demônios, eram pessoas vivendo no vale da sombra da morte, sem esperança de salvação. Um exemplo clássico dos evangelhos é o de Maria Madalena. Uma mulher vivendo sem esperança de perdão e sem esperança de vida. Jesus apareceu como resposta, e suas palavras foram de esperança e não de condenação quando disse: “... Eu também não te condeno, vá e não peques mais”. Maria era uma ovelha perdida e sem esperança de vida. Mas, o bom pastor dá sua vida pelas ovelhas. Nos braços do pastor ela encontrou vida e esperança. Outro exemplo clássico e oposto é o de Nicodemos. Apesar de ser um profundo conhecedor da Lei vivia sem esperança de salvação; apesar de sua religiosidade aparente vivia sem espiritualidade genuína. Nicodemos fazia suas boas obras para ser, mas Jesus lhe declarou que ele devia ser primeiro para depois fazer.
Jesus era a própria esperança encarnada, por onde passava deixava um trilho de luz e um raio de esperança nos corações. Na presença de Jesus o maior pecador sentia que ainda era humano, que ainda era possível, que nem tudo estava perdido. Cristo comunicava nova vida, novas forças. Ele era a própria bondade. Bartimeu, o cego que mendigava para sobreviver aproveitou a passagem de Jesus para buscar o que mais precisava, esperança. Hoje, Jesus ainda está passando; nos cultos da igreja, no estudo diário da Palavra de Deus, nas músicas espirituais e hinos de louvor, quando dobramos os joelhos e quebrantamos o nosso coração endurecido pelo pecado; quando ouvimos a Palavra Sagrada, quando estamos reunidos em nome de Jesus. Há um cântico que diz: “Deus está aqui, aleluia; tão certo como o ar que eu respiro, tão certo como o amanhã que se renova, tão certo como eu te falo e podes me ouvir”. Reflita: tem você aproveitado a passagem de Jesus como fez Bartimeu? É preciso um ato de fé. Lançar de sobre si a capa da falsidade e ser honesto com Deus e franco na comunicação com Ele. É necessário lançar de sobre si a capa que nos atrapalha e levantar-se, e isso é um ato de fé. É preciso lançar fora o orgulho, a auto-suficiência e nos levantar ao encontro de Jesus pela fé. É quando nos ajoelhamos que nos levantamos. O caminho para cima exige joelhos dobrados e coração arrependido. Diante de Jesus a capa de nossa aparente justiça não tem valor. Às vezes será preciso descer como o fez Zaqueu. Ser humilde e estar aos pés de Jesus em oração e confissão. Nos colocar totalmente desamparados e dependentes de seu poder e de seu espírito. Jesus é a nossa esperança e não haverá, jamais poderá haver, salvação sem comunhão com Ele. Longe do Pai Celestial tudo é incerto e relativo. O filho pródigo tem que sentir o abraço do Pai para sentir vida novamente. Está escrito: “o espírito de cristo em nós produz esperança... Cristo em vês a esperança da glória”. (Cf. Colos. 1:27).
O fato é que longe de Deus não pode haver esperança. Você já viveu sem Deus algum dia? Todos nós já experimentamos a separação causada pelo pecado entre nós e Deus. Está escrito: “Naquele tempo, estáveis sem cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo”. Essa era a situação de muitos, milhares nos dias de Jesus; aquele foi um dos momentos mais sombrio da história da humanidade, onde a fisionomia dos homens deixava transparecer sofrimento, miséria, dor, desespero, falta de fé, e, em muitos estava estampada a fisionomia de demônios, eram pessoas vivendo no vale da sombra da morte, sem esperança de salvação. Um exemplo clássico dos evangelhos é o de Maria Madalena. Uma mulher vivendo sem esperança de perdão e sem esperança de vida. Jesus apareceu como resposta, e suas palavras foram de esperança e não de condenação quando disse: “... Eu também não te condeno, vá e não peques mais”. Maria era uma ovelha perdida e sem esperança de vida. Mas, o bom pastor dá sua vida pelas ovelhas. Nos braços do pastor ela encontrou vida e esperança. Outro exemplo clássico e oposto é o de Nicodemos. Apesar de ser um profundo conhecedor da Lei vivia sem esperança de salvação; apesar de sua religiosidade aparente vivia sem espiritualidade genuína. Nicodemos fazia suas boas obras para ser, mas Jesus lhe declarou que ele devia ser primeiro para depois fazer.
Jesus era a própria esperança encarnada, por onde passava deixava um trilho de luz e um raio de esperança nos corações. Na presença de Jesus o maior pecador sentia que ainda era humano, que ainda era possível, que nem tudo estava perdido. Cristo comunicava nova vida, novas forças. Ele era a própria bondade. Bartimeu, o cego que mendigava para sobreviver aproveitou a passagem de Jesus para buscar o que mais precisava, esperança. Hoje, Jesus ainda está passando; nos cultos da igreja, no estudo diário da Palavra de Deus, nas músicas espirituais e hinos de louvor, quando dobramos os joelhos e quebrantamos o nosso coração endurecido pelo pecado; quando ouvimos a Palavra Sagrada, quando estamos reunidos em nome de Jesus. Há um cântico que diz: “Deus está aqui, aleluia; tão certo como o ar que eu respiro, tão certo como o amanhã que se renova, tão certo como eu te falo e podes me ouvir”. Reflita: tem você aproveitado a passagem de Jesus como fez Bartimeu? É preciso um ato de fé. Lançar de sobre si a capa da falsidade e ser honesto com Deus e franco na comunicação com Ele. É necessário lançar de sobre si a capa que nos atrapalha e levantar-se, e isso é um ato de fé. É preciso lançar fora o orgulho, a auto-suficiência e nos levantar ao encontro de Jesus pela fé. É quando nos ajoelhamos que nos levantamos. O caminho para cima exige joelhos dobrados e coração arrependido. Diante de Jesus a capa de nossa aparente justiça não tem valor. Às vezes será preciso descer como o fez Zaqueu. Ser humilde e estar aos pés de Jesus em oração e confissão. Nos colocar totalmente desamparados e dependentes de seu poder e de seu espírito. Jesus é a nossa esperança e não haverá, jamais poderá haver, salvação sem comunhão com Ele. Longe do Pai Celestial tudo é incerto e relativo. O filho pródigo tem que sentir o abraço do Pai para sentir vida novamente. Está escrito: “o espírito de cristo em nós produz esperança... Cristo em vês a esperança da glória”. (Cf. Colos. 1:27).
A esperança do cristão verdadeiro vai além desta vida. Está escrito: “Portanto a graça de deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos no presente século sensata, justa e piedosamente. Aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso Deus e salvador Cristo Jesus. Temos uma bem aventurada esperança, temo que alguns já tenham perdido...”. (Cf. Tito 2:13). A ressurreição de Jesus nos trouxe esperança, Pois Deus nos redimiu para termos esperança. Está escrito: “... nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus cristo dentre os mortos”. (Cf. I Pedro 1:3). “E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como Ele é puro”. (Cf. São João 3:3). “A esperança não traz confusão...”. (Cf. Romanos 5:5). “Alegrai-vos na esperança...”. (Cf. Romanos 12:12). “Se esperamos em cristo só nesta vida somos os mais infelizes...”.(Cf. I Coríntios). “Esperamos novos céus e nova terra...”. (cf. II Pedro 3:9-13).
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DOUTRINA DA REVELAÇÃO PARTE IV
REVELAÇÃO GERAL
Por: Jorge Schemes
Por: Jorge Schemes
Há duas revelações (revelação dupla), ou duas expressões usadas que estão resumidas em Salmo 19:1-13, ou seja:
Salmo 19:1-6 = Por meio da natureza (consciência).
Salmo 19:7-13 = Na Lei do Senhor.
Desta maneira podemos classificar a revelação em duas, ou dois “livros”, ou seja:
Salmo 19:1-6 = Revelação Geral.
Salmo 19:7-13 = Revelação Especial.
Em Hebreus 1:1 está escrito que “Deus falou de muitas maneiras...”.
1. Salmo 19:1-6 = revela duas maneiras, por meio da natureza e da consciência (revelação geral). Será válido analisar resumidamente por meio da história as idéias defendidas em relação a revelação geral:
Thomas de Aquino: A mente natural ajudada pela “analogia entis” (analogia do ser) pode provar a existência de Deus e sua perfeição. O Catolicismo tem chegado por meio da analogia entis à teologia natural. Para os Católicos o homem pode chegar a algumas verdades sem a graça, sem o espírito de Deus, por meio da teologia natural, usando a razão (imago dei). Thomas de Aquino tem quatro argumentos para chegar a prova da existência de Deus:
1. Argumento cosmológico: As coisas existentes apontam para a existência de um Deus criador.
2. Argumento teleológico: Há a necessidade de uma ordem, pois há um propósito nas coisas, há um disígnio.
3. Argumento ontológico: Tem que ver com o ideal de perfeição dentro do homem imperfeito. Isso sugere uma fonte maior que o homem.
4. Argumento antropológico: A inteligência dentro do homem e a capacidade humana de transcender-se dentro de si mesmo. Como pode a personalidade advir da impersonalidade?
Estes quatro argumentos de Thomas de Aquino fazem parte da tradição que ficou conhecida como Tomismo. Os argumentos da tradição Tomista ainda são válidos hoje.
Teologia Liberal: É construída sobre o fundamento da revelação geral. Anula a necessidade da revelação especial. Os teólogos liberais afirmam que a revelação geral é suficiente para a salvação. A questão que deve ser levantada é: se os homens podem se salvar observando as coisas, a natureza, então os homens podem se salvar sem Cristo? Todavia, há alguns teólogos que negam a possibilidade de uma revelação geral:
Karl Barth: Afirma que há um abismo qualitativo entre Deus e o homem. Nega a possibilidade de uma revelação geral. Barth é contra a teologia católica da Teologia Natural. Afirma que não há revelação “analogia entis”, além disso, Barth viveu no contexto histórico da segunda guerra mundial e do nazismo de Adolf Hitler, época em que muitos cristãos acreditavam que o nazismo fazia parte do plano de Deus para este mundo, assim, Barth rejeitou a teologia natural e a revelação geral. A analogia entis para Karl Barth fazia parte do anticristo. Quando super valorizada a revelação geral pode levar as pessoas a rejeitar a revelação especial.
Agostinho; Lutero; Calvino, Charles Hodge e Warfield: Todos argumentam a favor da existência de uma revelação geral, mas esta é limitada. A revelação geral está disponível a qualquer um, basta abrir os olhos para ver.
Berkouwer; Kuyper e Van Til: Também admitem uma revelação geral, mas negam que ela possa comunicar conhecimento a qualquer pessoa. Há um pré-requisito para entender a revelação geral, que é aceitar a revelação especial. Alegam que somente a mente regenerada pode ver a revelação geral.
A Bíblia e a Revelação Geral:
Há duas classificações: Por revelação geral não estou me referindo a teologia natural, pois a revelação geral é distinta da teologia natural católica. A revelação geral não rejeita a revelação especial, ou seja, não pode obscurecer a necessidade da revelação especial. A bíblia dá testemunho das coisas criadas. Deus tem feito uma revelação por meio das coisas criadas (revelação geral na natureza): (Cf. Salmo 19:1-6; Jó 36:24-37:24; Jó 38:1-39:30; Salmos 8:3-4; Isaías 40:12-15; Atos 14:15, 17; Atos 17:24-31; Romanos 1 e 2).
Romanos 1:19, 20,23 – Por meio da natureza até mesmo os gentios podem conhecer a Deus. Romanos capítulos 1 e 2 são os textos mais sistematizados da bíblia. O verbo grego para conhecer é gnosco (γινωσχω) e tem a ver com a mente, com a consciência. O capítulo 1 de Romanos foi escrito por Paulo para os gentios, onde ele enfatiza a revelação geral por meio da natureza. O capítulo 2 de Romanos Paulo escreveu para os judeus, onde ele enfatiza a revelação especial (a Lei). Todos possuem um conhecimento básico e rudimentar de Deus. Conhecer ou compreender (gnosco) os atributos (grego: teiotes ou τειοτες) que falam da perfeição de Deus sob o Espírito Santo.
Utilidade e Limitações da Revelação Geral:
Deveríamos ser cegos ou nos fazer de cegos para não ver, para negar as evidências. Salmos 14:1 – “O tolo diz: Não há Deus...”. Diz o néscio em seu coração: não há Deus. Jesus disse: RACA = Tolo. Na parábola da casa construída sobre a areia e da casa construída sobre a rocha Jesus disse RACA. Néscio (tolo) é aquele que está fora do Reino de Deus. A ciência procura ser racional, mas é ao mesmo tempo irracional, pois na ordem natural não há espaço para um criador e originador de tudo. Há ordem no caos, esta é a grande surpresa dos cientistas. Sem ordem não pode haver ciência, quem é o autor desta ordem? Há uma confusão hoje entre realidade e verdade. A realidade está fundamentada nos sentidos enquanto que a verdade transcende os sentidos. Desde a queda do homem no pecado a natureza tem sido insuficiente para apresentar a pessoa, a santidade e a justiça de Deus. Há algum conhecimento, mas é impossível conhecer o amor redentivo de Deus. Por meio da revelação geral as diferentes culturas têm chegado a diferentes conclusões sobre Deus, pois o homem tem a sua visão obscurecida pelo pecado. Enquanto o paganismo antigo adorava e cultuava a natureza, o paganismo pós-moderno tem mudado suas divindades.
Comparação entre Revelação Geral e Revelação Especial:
1. Revelação Geral:
· Não é mediada.
· É geral (natureza).
· Acessível a todos.
· É geral no conteúdo.
· Leis naturais.
· Antes da queda (Prélapsariana).
· Antes da redenção (Pré-redentora).
· Não é sotérica em seu propósito.
· Faz uma apelação ao homem como criatura.
2. Revelação Especial:
· É mediada (há um meio).
· É específica.
· Disponível apenas por um meio.
· Específica no conteúdo.
· É sobrenatural.
· É póslapsariana (Depois da queda).
· É sotérica em seu propósito (Pró-redentora).
· Faz uma apelação ao homem como pecador.
O propósito da revelação geral sendo prélapsariana não tem propósito soteriológico, porque não pode conduzir a uma “completa” compreensão de Deus. Não é insuficiente apenas por causa do pecado, ela é inerentemente insuficiente, até mesmo antes do pecado havia necessidade de uma revelação especial. Mesmo antes da queda a revelação geral era insuficiente e a revelação especial era essencial. Desta maneira podemos afirmar que a revelação geral é válida, porém insuficiente. Por causa do pecado e inerentemente há necessidade de uma revelação especial.
Dentre os propósitos da revelação geral podemos destacar os seguintes:
1. Provê uma base por meio da qual é possível fazer uma distinção entre o bem e o mal.
2. As pessoas têm um conhecimento elementar da divindade por meio da revelação geral, o que facilita o testemunho cristão.
3. A revelação geral provê uma base para a revelação especial; é como uma ante-sala para a teologia bíblica.
Há duas dimensões da revelação geral, ou seja: se por um lado ela serve como uma fonte do conhecimento de Deus por meio da natureza, por outro, é impossível ao homem fazer uma leitura correta da natureza por causa do pecado, assim, a revelação geral necessita da revelação especial. Considerando a primeira dimensão podemos deduzir que mesmo entre os pagãos Deus tem partilhado seu conhecimento. Deus é livre para fazer o que quiser por meio da natureza como revelação geral. Assim, a prova de Deus para os pagãos que não têm a luz da revelação especial e para aqueles que estão vivendo na luz é completamente diferente. Deus aceita aqueles que em terras pagãs são justos, dentro de uma determinada fase de justiça, e que vivem segundo a luz que têm. O transcendente não requer muito onde muito não foi oferecido, todavia Ele dará maior luz, se formos fiéis àquela que recebemos. Deus proverá luz adicional por meio da revelação especial para aqueles que são fiéis com a luz que têm. Não podemos limitar a Deus, Ele não está limitado, pois há várias maneiras que Ele se mostra. Deus é livre para fazer a revelação como Ele pretende.
O ladrão na cruz não teve a mesma oportunidade que o apóstolo Paulo teve. Há coisas que nem mesmo na eternidade nós poderemos obter. Por exemplo: a alegria de testemunhar de Cristo aqui neste mundo. Nossa oportunidade aqui é agora. Devemos testemunhar de Jesus Cristo, não podemos perder esta oportunidade única. Na eternidade não teremos mais a oportunidade de testemunhar de Jesus Cristo. O ladrão na cruz se salvou, mas não terá a mesma experiência que Paulo teve. A história humana fechará para sempre o que a eternidade não oferecerá. Nosso compromisso tem que ver com a quantidade de luz que temos recebido. Há pessoas que se salvaram sem conhecer as marcas nas mãos de Jesus. A pouca luz leva a um compromisso pequeno, mas Deus deseja conceder mais luz. Há uma dimensão de alegria com a pessoa que aceita a quantidade de luz que Deus revelou. A alegria da salvação e de servir está relacionada com a quantidade de luz recebida e aceita.

DOUTRINA DA REVELAÇÃO PARTE III
CONCEITOS DA REVELAÇÃO NO SÉCULO XXI
Por: Jorge Schemes*
A nova ortodoxia abriu espaço para o existencialismo, o qual já havia sido antevisto por Kierkegaard (1855). O existencialismo pode ser defino em síntese como a vida na perspectiva da existência. A nova ortodoxia começa com Martin Buber, o qual não é teólogo, mas teve uma grande influência sobre a teologia moderna e pós-moderna. Buber escreveu um pequeno livro intitulado “Eu e Tu”, o qual contém uma linguagem filosófica muito densa. Ele sugere a existência de dois reinos de relacionamento, pois o homem se relaciona em dois níveis: 1. Eu e as coisas; 2. Eu e o outro (Tu). O nível do eu e as coisas é próprio do método empírico, científico. Este é o modelo ocidental, é a visão ocidental do mundo. A descrição analítica que caracteriza o método científico tende a coisificar as pessoas também. Buber era filósofo judeu, e nesta relação entre o Eu e o Tu alegava que a maior maneira de ter esse relacionamento era com Deus. Segundo Buber, para conhecer uma pessoa é necessário relacionamento íntimo, e a suprema expressão do relacionamento ao nível Eu e Tu é com Deus. Buber influenciou muito um teólogo calvinista chamado E. Brunner. Brunner acreditava na queda do homem no pecado, na transcendência de Deus e que Jesus era a segunda pessoa da Trindade. Houve uma tendência de voltar a ortodoxia, à reforma, mas o retorno não foi completo, por isso é denominada de nova ortodoxia. O contexto histórico da época era de guerras e desgraças. Brunner escreveu dois livros com temas semelhantes: 1. A Verdade como Encontro (Truth as Encounter); 2. Revelação e razão (Revelation and Reason). Brunner aplicou a filosofia de Buber ao cristianismo, afetando diretamente o conceito de revelação. No conceito da teologia do encontro há algumas implicações: o homem caído necessita de ajuda Divina; revelação é um encontro, um evento e não comunicação de informação. A revelação acontece quando Deus e o profeta se encontram em um relacionamento Eu e Tu sem nenhum elemento material (Coisas). Apenas há o impacto do encontro sem nenhuma informação, desta maneira toda revelação é limitada a este encontro imanente, subjetivo. Neste encontro não há nenhuma comunicação, apenas o encontro. Encontra-se somente Deus em si sem mais nada.
Dentro desta perspectiva, qual é o propósito das Escrituras Sagradas? A bíblia é apenas uma coleção de testemunhos de fé, não é a Palavra de Deus em si, mas o testemunho do encontro do profeta com Deus, um relato da experiência do profeta. A bíblia é um testemunho primário da revelação e o encontro é a Palavra de Deus e a função da bíblia é mediar a revelação. Assim, cada geração tem a mesma possibilidade de ter a revelação, não é apenas uma experiência do passado. E quanto a natureza da autoridade bíblica, as Escrituras não têm caráter normativo. A bíblia é apenas uma coleção de testemunhos de fé para criar nos crentes o mesmo tipo de experiência. Não se usa mais o termo “Palavra” para doutrinas porque estas não são adequadas ou nem mesmo relevantes para todas as pessoas.
No cenário atual podemos diagnosticar várias tendências modernas e pós-modernas. Brunner no está só em sua ênfase subjetiva para a Revelação. W. Pannemberg crê que a revelação se dá na história. Revelação é a ação de Deus na história. Acredita que o ser humano com seus poderes naturais sem nenhuma ajuda sobrenatural pode apropriar-se desta revelação que Deus faz de si mesmo na natureza. Para Karl Barth e R. Bultmann a revelação é o Kerygma (proclamação), mas com uma forte qualidade existencial. Eles fazem uma ligação entre proclamação e revelação. O Kerygma está intimamente ligado com a experiência humana, não há a dimensão pública. Todavia, os teólogos da Teologia da Libertação criticam Bultmann, pois a fé tem uma dimensão pública além da privada que é o próprio Kerygma (religião própria e particular). A teologia kerigmática é confrontada com a teologia da libertação, há muitas críticas. A teologia da libertação fala da revelação como uma nova percepção. Revelação para os teólogos da libertação é uma emergência a um estado mais avançado da consciência humana, não há conteúdo fixo. Esta revelação é mediada por eventos paradigmáticos e como conseqüência a bíblia deve ser reinterpretada para se ajustar as mudanças históricas. Dentro da concepção da Teologia da Libertação, Deus hoje está sendo revelado na história. Assim, revelação é o resultado de nosso envolvimento na história, a qual é mediada pelo clamor do povo, o que exige participação social. A história passa a ser o cenário da revelação e a palavra de Deus nos alcança à medida de nosso envolvimento e participação.
A questão que deve ser levantada para reflexão é a seguinte: a revelação como um tipo de encontro e uma experiência interior, bem como a revelação como um momento histórico e uma nova percepção, são conceitos que têm em comum uma abordagem antropocêntrica. Estes diferentes pontos de vista sobre a revelação são definidos de acordo com a perspectiva do homem e não de Deus. Quais as implicações disto para o cristianismo pós-moderno?
*Jorge Schemes:
Bacharel em Teologia Línguas Bíblicas – Grego e Hebraico.Licenciado em Pedagogia com Habilitação em Séries Inicias e Administração Escolar.Licenciado em Ciências da Religião.Pós-Graduado em Interdisciplinaridade e Metodologia do Ensino Superior.Pós-Graduado em Psicopedagogia Clínica e Institucional.Professor de Filosofia da Educação e Educação Não-Formal na FEJ – ACE.Professor de Religião no Instituto de Parapsicologia de Joinville.Professor de Metodologia Científica na Escola Superior de Teologia e Filosofia do Brasil – ESTEFIB.Técnico Pedagógico na GEECT - Gerência da Educação, Ciência e Tecnologia.

ANTROPOLOGIA RELIGIOSA
REFLEXÕES SOBRE
ANTROPOLOGIA RELIGIOSA
Por: Jorge schemes
ANTROPOLOGIA RELIGIOSA
Por: Jorge schemes
A antropologia religiosa estuda o ser humano segundo as ciências da religião, enquanto ser aberto, que busca e acolhe o transcendente usando o método científico e trabalhando com as fontes das matrizes religiosas. Dentre as tarefas da antropologia religiosa desataca-se o estudo do ser humano situado na existência sociopolíticoeconômica. Isso envolve dimensões do ser humano, tais como liberdade, sofrimento, mal, política, cultura, ecologia, trabalho, etc., dentro de um contexto moderno com referências à pós-modernidade. Alguns temas chaves da antropologia religiosa são a origem do homem (criação), como ser nativo (original), na atualidade, na história e como ser peregrino em seu destino como ser escatológico (finalidade, realização). Assim, dentro da antropologia religiosa o estudo do ser humano envolve sua origem, sua atualidade e seu destino; sua criação, sua história e sua finalidade ou realização; sua essência enquanto ser nativo, enquanto ser em progresso e enquanto ser escatológico. Há dois aspectos na dimensão pessoal e social que envolve o Ser: o ser humano natural e otimista e o ser desumano pessimista e realista. Enquanto ser pessoa ele está voltado para o interior e enquanto ser comunidade está voltado para a sociedade, para a cultura, política e história. Se torna inegável que este Ser é um nó de relações. Há ondas de relações construídas pelo ser humano que estão direcionadas no sentido horizontal e vertical. O nó de relações se dá no sentido horizontal com o mundo (cosmos) envolvendo ciência, técnica, trabalho, meio-ambiente, mas também envolve relações intersubjetivas e interpessoais envolvendo aspectos como sexualidade, política, sociedade, cultura. No sentido vertical, o nó de relações construído pelo Ser ocorre nas dimensões do ego e do transcendente. Há uma relação de profundidade na busca por si mesmo, pelo ser pessoa, pela liberdade, pelo humano no ser na relação corpo e espírito. Por outro lado há uma relação de busca pelo mistério, pelo oculto que se dá na dimensão da fé, da religiosidade e da religião. Todos estes aspectos fazem parte das ondas de relações construídas pelo ser humano para dar sentido a sua realidade.
Todavia, o ser humano pode cortar relações em qualquer eixo dimensional ou até mesmo romper com todos. O ser humano desumano é aquele que corta relações em qualquer um dos eixos ou dimensões. O ser humano pronto e acabado não existe, pois o humano no ser está sempre inserido num processo dialético, ou seja, se fazendo, se desfazendo e se refazendo. Todavia, há um forte peso cultural nesse processo. Por exemplo, a cultura judaico-cristã trabalha com o princípio dualista da distinção, enquanto por outro lado a cosmovisão holística é integradora e defende um movimento interdisciplinar. A ciência parte do princípio da divisão para o controle (divide para controlar), isso caracteriza o que conhecemos como especialização, que na minha opinião significa saber cada vez mais a respeito de cada vez menos. Na cosmovisão judaico-cristã significa distinguir, pois a fé judaico-cristã vem do conceito do Deus criador distinto. Essa concepção não desfaz a inter-relação e a integralidade. As grandes religiões do Oriente não têm um Deus criador distinto, pois para eles tudo é uma realidade só caindo na concepção panteísta de Deus, ou seja: tudo é deus e deus é tudo. Nesta concepção não distinção, mas uma relação harmoniosa de interdependência (holismo). Quando se trabalha a distinção corre-se o risco de dividir as coisas, e é isso que caracteriza a ciência moderna. O método cientifico vai distinguindo as coisas e corre o risco de perder a cosmovisão integradora, global. René Descartes escreveu: “penso, logo existo”, em seu método defende a idéia do ser humano psicofísico (extensão pensante e extensão corpórea), assim, o mundo é algo para ser pensando, quantificado, medido, etc. a ética que está subentendida na declaração de descartes é que eu sou, mas o outro não é. Desta maneira o mundo pós-moderno capitalista e neoliberal justifica o individualismo em contraposição a alteridade como fundamentação ética, e promove no inconsciente coletivo as raízes da discriminação e da exclusão.
O mesmo ser humano que é um nó de relações não é isolado, mas forma uma rede onde cada um de nós é um dos nós. Tudo que ocorre na rede é solidário (solidariedade incondicional no bem o no mal). Todavia, quando um nó da rede fica solto ou desamarrado, a rede fica solta e frágil. Manter a rede firme depende de cada um de nós e de todos. A solidariedade do bem é estruturante, e a do mal é desestruturante. Nós somos mais bem integrados no bem (união solidária) do que no mal, assim, só pode existir o mal porque a rede está estruturada no bem. Essa condição social solidária é mais radicada no bem do que no mal, porém o mal agride mais porque afeta o bem natural e comum da constituição da rede e de cada nó (ser humano). Nesse contexto está situada a importância da antropologia religiosa. Enquanto área do conhecimento, a ciência da religião destaca-se como orientadora no processo de contato com as grandes tradições e orientações culturais do nosso tempo (cada povo cria suas grandes orientações culturais). Vejamos as quatro grandes orientações culturais de nosso tempo histórico:
1. Subjetivismo (individualismo): trabalha a partir de si como indivíduo. No passado, algumas culturas pensavam de forma coletiva e não individual (eu). No campo político-filosófico destaca-se o neoliberalismo, o economicismo e o materialismo. No âmbito religioso destaca-se a religião individualizada. Todavia, quando o eu está fora da constituição da rede acaba contribuindo para a criação de uma sociedade fragmentada e regida pelo princípio da anomia (sem lei). As quatro grandes orientações culturais exacerbam (levam a extremos) as quatro grandes dimensões do nó de relações, ou seja: do ser humano com o mundo, com os outros, consigo mesmo e com o transcendente.
2. Economicismo (centrado no ter, no concentrar, no reter as coisas): Trabalha com o princípio da coisificação, da centralização nas coisas. As relações valem como se fossem coisas, há uma coisificação das relações. O princípio ético é pautado pelo lema: usar pessoas e amar as coisas. O Mercado é tratado como um ser vivo autônomo que, segundo Adam Smith, se faz por si mesmo. Há uma identificação do Mercado como um ser pessoal (animismo) o qual chega a ser tratado como se fosse um deus, um ídolo da racionalidade de uma sociedade tecnocrata. As pessoas se entregam ao mercado financeiro como oferendas de produção e consumo. Há uma marginalização intencional, um empobrecimento dos pobres e uma falta de participação ativa e crítica nos processos políticos. Outras evidências ficam por conta da desigualdade social, perda da soberania nacional e dependência do mercado financeiro, perda de valores.
3. Socialismo no sentido de massificação: há grandes aglomerações de pessoas no mundo pós-moderno. Há um forte desejo de igualdade e paz universal. O mundo é visto como uma aldeia universal.
4. Pluralismo religioso: no século XXI as pessoas ainda estão ansiosas pelo sagrado, pelo transcendente. Algumas vezes esse sagrado é comercializado e coisificado. Há uma cosmovisão inter-religiosa interdependente e integradora. Busca-se a unidade na pluralidade e pluralidade na unidade.
No contexto da cultura judaico-cristã, percebemos a infiltração do dualismo antropológico (matéria/espírito; corpo/alma; emoção/razão; etc.). Há uma forma dividida do pensamento crítico que não está presente e não faz parte do pensamento oriental. A pergunta que precisa ser feita é: por que o ocidente tem esta forma de pensamento e esta prática dualista? A infiltração do dualismo antropológico no pensamento ocidental teve influência da filosofia platônica, principalmente através de Santo Agostinho no contexto da tradição religiosa de matriz cristã. Para Platão a filosofia tinha uma dimensão dualista entre o mundo das idéias, verdadeiro, repleto de conhecimento (episteme) e o mundo terreno, onde as coisas eram cópias e sombras, repleto de opiniões (achismo). Esta filosofia estava em voga no início do cristianismo por meio de Plotino que trabalhava o neoplatonismo. Fundamentado em Platão, Agostinho colocou o conteúdo cristão numa linguagem filosófica e cultural platônica. Assim como Platão ele também defendia a idéia do dualismo: céu/terra; Deus/homem; etc. Agostinho defendia a existência de dois mundos, um celestial, onde estavam as idéias, o divino e as luzes, e outro terrestre, o qual era cópia e sombra da realidade celestial. Deste modo o cristianismo vai sendo marcado por uma divisão dualista da realidade (espírito/matéria; alma/corpo; Deus/mundo; razão/emoção; igreja e religião/sociedade e política; etc.; este é o dualismo que está presente em nosso mundo hoje. Porém vale lembrar que há uma diferença entre ética e ontologia dualista. Ética envolve o fazer o bem ou o mal, enquanto ontologia envolve o estudo do ser onde o corpo é mau e alma é boa.
Outra influência sentida em nosso dia é da filosofia cartesiana (René Descartes) que se faz presente na ciência moderna. “Eu penso, logo sou”, alegava Descartes. Em seu conceito psicofísico do ser humano havia uma lógica subentendida pela cultura ocidental européia, e essa lógica tinha uma fundamentação ética que justificaria verdadeiros genocídios de outros seres humanos no continente americano. No dualismo cartesiano da Res Cogitans (sujeito pensante, o ser humano, europeu, homem e sacerdotes), e da Res Extensa (objeto material, mundo, outros povos, mulher e povo) os europeus encontraram uma justificativa válida para validar seu projeto de morte para os povos que habitavam o continente americano.
Hoje, na sociedade cultural pós-moderna, há tentativas de superação do dualismo platônico e do dualismo cartesiano. Uma delas é de justaposição, onde se justapõe uma coisa à outra. Outra tentativa é dialética (inversão), onde se põe valor naquilo que antes não valia, por exemplo: o corpo é valorizado e o espírito não. E uma terceira tentativa de superação é de inclusão das diferenças, onde somos seres corporais e espirituais que temos liberdade e responsabilidade. Neste contexto destaca-se o diálogo inter-religioso, o qual tem por objetivo incluir as diferenças e as minorias sob o princípio do diálogo e da reverência pautado pela ética da alteridade em contraposição a ética cartesiana.
Algumas teorias contemporâneas causam desconfiança sobre a validade da antropologia religiosa, dentre elas a que defende o surgimento da religião como resultado de causas psicológicas ou como determinações do meio sócio-econômico, e não como uma relação do homem com o divino. A antropologia religiosa está fundamentada nas relações do homem com o divino na dimensão do eu e do outro como pólos que se complementam. Busca os fundamentos das tradições culturais e da experiência religiosa, ou das relações do homem com o divino, que estão presentes na inter-relação entre o eu, o outro e o sagrado (que se manifestam na comunidade). A antropologia religiosa busca uma interpretação aberta das tradições culturais e experiências religiosas fazendo uma análise antropológica das manifestações religiosas. Estas manifestações buscam a universalidade do sagrado e causam uma classificação. Contudo, são nestas manifestações que a antropologia religiosa busca a essência da religião. Esta essência envolve vários aspectos como objetos de análise e reflexão, ou seja: fatores psicológicos; sistema religioso; crenças; teologia; experiência existencial com o divino; fenomenologia antropológica; descomprometimento crítico sem estabelecer juízo de valor; coletas de dados empíricos, históricos, culturais, econômicos, políticos e sociais; purificação de conceitos; ciências humanas; linguagem e símbolos próprios, experiências religiosas próprias a nível individual e coletivo. Neste sentido o cientista da religião não pode colocar na frente de seu objeto de estudo e pesquisa a sua própria fé. Se isso ocorrer ele será um catequista ou proselitista. Para evitar este erro é fundamental entender que cultura e religião estão entrelaçadas, interligadas. Uma influencia a outra, são justapostas porque ambas se influenciam e são influenciadas. Também é fundamental nortear o trabalho da antropologia religiosa pela ética que mais dá conta das relações humanas, ou seja; a ética da alteridade.
*Jorge Schemes:
Bacharel em Teologia Línguas Bíblicas – Grego e Hebraico.Licenciado em Pedagogia com Habilitação em Séries Inicias e Administração Escolar.Licenciado em Ciências da Religião.Pós-Graduado em Interdisciplinaridade e Metodologia do Ensino Superior.Pós-Graduado em Psicopedagogia Clínica e Institucional.Professor de Filosofia da Educação e Educação Não-Formal na FEJ – ACE.Professor de Religião no Instituto de Parapsicologia de Joinville.Professor de Metodologia Científica na Escola Superior de Teologia e Filosofia do Brasil – ESTEFIB.Técnico Pedagógico na GEECT - Gerência da Educação, Ciência e Tecnologia de Joinville, SC.
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EXEGESE DE ISAIAS 53:11
UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU – FURB
CURSO DE CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
ANÁLISE LÉXICO-SINTÁTICA DE ISAIAS 53:11
Por: Jorge Schemes
Primeiramente é interessante considerar várias versões do texto sagrado para que tenhamos uma idéia geral de seu sentido básico.
“Depois de tanta aflição verá a luz, e ficará satisfeito. Com seu conhecimento meu servo justo justificará a muitos, e levará as iniqüidades deles” (Versão de N.R.V.).
“Pelas fadigas de sua alma verá a luz e se contentará. Por suas desfeitas justificará meu servo a muitos e as culpas deles ele suportará” (Bíblia de Jerusalém – Edição Espanhola).
“Verá o fruto do trabalho de sua alma e ficará satisfeito: com seu conhecimento meu justo servo justificará a muitos, pois ele mesmo carregará com suas iniqüidades”. (Santa bíblia, Versão Moderna, Sociedade Bíblica Americana).
“Depois de tanta aflição ele verá a luz, e ficará satisfeito ao sabê-lo, o justo servo do Senhor libertará a muitos, pois carregará a maldade deles”. (Versão Popular da Bíblia em Espanhol – Dios Habla Hoy).
“Livrada a sua alma dos tormentos verá, e o que verá satisfará a sua alma e seus desejos, o Justo, meu servo, justificará a muitos, e carregará com as iniqüidades deles”. (Sagrada Bíblia, Biblioteca de Autores Cristãos).
“Verá o fruto das preocupações de sua alma e ficará saciado. Este mesmo justo, meu servo, diz o Senhor, justificará a muitos com sua doutrina e pregação, e carregará sobre si os pecados deles”. (Bíblia Sagrada Versão Catelhana de Félix Torres Amat – Revista Católica).
“Ele verá o fruto das fadigas de sua alma, ele estará completamente satisfeito. Por seu conhecimento meu servo justo justificará a muitos, e ele levará os pecados deles”. (Minha Versão baseada em: The Interlinear Hebrew/Greek English Bible, Vol. 3).
Minha Versão em Hebraico em transliteração da Bíblia Hebraica (Isaias 53:11):
“ME AMAL NAPESHO YIRE ET YISEBO BEDA ETTO YASEDDYK ABEDDY LORABBYM WA AONOTAM HU YISEBBEL”.
Faremos uma análise das palavras AMAL = trabalho; e EVED = servo.
AMAL (trabalho) – É uma palavra que significa trabalho mas com os olhos na sua dificuldade. É trabalhar duramente com demasiado esforço. É o esforço de trabalhar suas mãos para terminar uma tarefa, mas sempre com uma atenção particular nas dificuldades. AMAL tem o significado do ato em si mesmo, mas também é o resultado do ato; que neste caso é o fruto ou produto do trabalho. O servo do Senhor não teria que sofrer por nada ou de graça, mas haveria uma recompensa por seu esforço.
Os cantos do servo são uma seqüência e há uma progressão que leva ao clímax em Isaias 52:13-53:12; no quarto canto do servo. Parece que o trabalho do servo é sem resultado, mas ele espera em Deus sua recompensa; é isso o que indica a palavra AMAL. Como exemplo temos a experiência de Jesus quando estava sofrendo na cruz e não havia ninguém que estivesse crendo nele, mas um dos ladrões foi sem dúvida o primeiro fruto do trabalho do Messias (Cf. Luc. 23:39-42).
Sem dúvidas Jesus Cristo “trabalhou tendo os seus olhos fixos não apenas nas dificuldades, mas também, e muito mais nos resultados”. (Cf. Mat. 26:36-46). Quando no Getsemâni sua humanidade reinou por um momento diante do sofrimento, mas com os olhos cheios de amor ele olhou ao futuro e viu os resultados de seu esforço, ele viu a cada um de nós.
EVED (servo) – Em Isaias a palavra, servo, aparece 61 vezes e destas 53 vezes ela está relacionada com YHWH, ou seja, “servo de Yahweh”. A raiz da palavra pode também ser traduzida como escravo. Além disso a palavra servo está determinada em seu sentido como conceito oposto (ADON) Senhor. Como conceito relacional, EVED adquire seu pleno significado, ou seja: servo subalterno, súdito, ministro.
Que um homem se denomine como servo de Deus, ou se chame servidor de Deus no AT é conseqüência natural da concepção de Deus como Senhor. A associação primária da palavra EVED não é a de estar submetido, mas a de pertencer ao Senhor e estar protegido por ele. A única diferença essencial na relação do servo entre os homens e entre o homem e Deus consiste em que o servo de um homem pode significar também uma gravíssima diminuição da existência, enquanto que ser servo de Deus significa sempre ter um bom Senhor. Nunca pode significar escravidão em sentido negativo.
Mais especificamente o significado de servo de YHWH nos cantos do servo de Deus (Isaias 42:1-53:12) só é possível esclarecer pelo conjunto dos textos. O sofrimento do servo (52:13-53:12) está estreitamente ligado com a atuação de Deus na história humana. Há comentaristas que sugerem que o servo de Deus descrito na perícopa é Ciro, ou Zorobabel ou mesmo o próprio Israel. Mas, temos de considerar que no texto o profeta fala claramente do servo como uma figura distinta de Ciro, Zorababel e Israel. O servo é retratado como uma figura individual, e além disso devemos considerar que ao ter fracassado o serviço de Israel a Deus, o próprio Deus se encarrega de eliminar o pecado do povo. Através de seu serviço atua YHWH como confirma o texto de Isaias 52:13-53:12.
De acordo com muitos comentaristas, muito se tem escrito sobre a identificação do servo do Senhor apresentado em Isaías 40-55; ainda que a expressão ocorra apenas em Isaías 42:19. Uma ampla relação do sentido da palavra servo tem sido feita, mas temos que considerar que o sentido e o uso da palavra servo no AT segue em textos do NT. Na LXX EVED é mais traduzido como DOULOS = escravo. De maneira muito significativa, Jesus é chamado de servo do Senhor (Cf. Atos 3:13, 26; 4:27,30), provavelmente identificado aqui como o servo de Isaías 53:11. O próprio Cristo se colocou em posição de servo, se humilhou até a morte e morte de cruz (Cf. Filip. 2:6-8), mas obteve a vitória eterna (V. 9-11). Baseado em atos 8:26-40 o servo de Isaías 53 é nada menos que o próprio Jesus (V. 35).
Bibliografia:
Archer, Gleason. Merece Confiança o Antigo Testamento? São Paulo: Vida Nova, 1991.
Davidson, Benjamin. The Analytical Hebrew and Choldee Lexicon. Michigan: Zondervan P.H., 1970.
Stuart, Douglas. Old Testament Exegesis: A Primer for Students end Pastors. Philadelphia: Westminster Press, 1984.
“Depois de tanta aflição verá a luz, e ficará satisfeito. Com seu conhecimento meu servo justo justificará a muitos, e levará as iniqüidades deles” (Versão de N.R.V.).
“Pelas fadigas de sua alma verá a luz e se contentará. Por suas desfeitas justificará meu servo a muitos e as culpas deles ele suportará” (Bíblia de Jerusalém – Edição Espanhola).
“Verá o fruto do trabalho de sua alma e ficará satisfeito: com seu conhecimento meu justo servo justificará a muitos, pois ele mesmo carregará com suas iniqüidades”. (Santa bíblia, Versão Moderna, Sociedade Bíblica Americana).
“Depois de tanta aflição ele verá a luz, e ficará satisfeito ao sabê-lo, o justo servo do Senhor libertará a muitos, pois carregará a maldade deles”. (Versão Popular da Bíblia em Espanhol – Dios Habla Hoy).
“Livrada a sua alma dos tormentos verá, e o que verá satisfará a sua alma e seus desejos, o Justo, meu servo, justificará a muitos, e carregará com as iniqüidades deles”. (Sagrada Bíblia, Biblioteca de Autores Cristãos).
“Verá o fruto das preocupações de sua alma e ficará saciado. Este mesmo justo, meu servo, diz o Senhor, justificará a muitos com sua doutrina e pregação, e carregará sobre si os pecados deles”. (Bíblia Sagrada Versão Catelhana de Félix Torres Amat – Revista Católica).
“Ele verá o fruto das fadigas de sua alma, ele estará completamente satisfeito. Por seu conhecimento meu servo justo justificará a muitos, e ele levará os pecados deles”. (Minha Versão baseada em: The Interlinear Hebrew/Greek English Bible, Vol. 3).
Minha Versão em Hebraico em transliteração da Bíblia Hebraica (Isaias 53:11):
“ME AMAL NAPESHO YIRE ET YISEBO BEDA ETTO YASEDDYK ABEDDY LORABBYM WA AONOTAM HU YISEBBEL”.
Faremos uma análise das palavras AMAL = trabalho; e EVED = servo.
AMAL (trabalho) – É uma palavra que significa trabalho mas com os olhos na sua dificuldade. É trabalhar duramente com demasiado esforço. É o esforço de trabalhar suas mãos para terminar uma tarefa, mas sempre com uma atenção particular nas dificuldades. AMAL tem o significado do ato em si mesmo, mas também é o resultado do ato; que neste caso é o fruto ou produto do trabalho. O servo do Senhor não teria que sofrer por nada ou de graça, mas haveria uma recompensa por seu esforço.
Os cantos do servo são uma seqüência e há uma progressão que leva ao clímax em Isaias 52:13-53:12; no quarto canto do servo. Parece que o trabalho do servo é sem resultado, mas ele espera em Deus sua recompensa; é isso o que indica a palavra AMAL. Como exemplo temos a experiência de Jesus quando estava sofrendo na cruz e não havia ninguém que estivesse crendo nele, mas um dos ladrões foi sem dúvida o primeiro fruto do trabalho do Messias (Cf. Luc. 23:39-42).
Sem dúvidas Jesus Cristo “trabalhou tendo os seus olhos fixos não apenas nas dificuldades, mas também, e muito mais nos resultados”. (Cf. Mat. 26:36-46). Quando no Getsemâni sua humanidade reinou por um momento diante do sofrimento, mas com os olhos cheios de amor ele olhou ao futuro e viu os resultados de seu esforço, ele viu a cada um de nós.
EVED (servo) – Em Isaias a palavra, servo, aparece 61 vezes e destas 53 vezes ela está relacionada com YHWH, ou seja, “servo de Yahweh”. A raiz da palavra pode também ser traduzida como escravo. Além disso a palavra servo está determinada em seu sentido como conceito oposto (ADON) Senhor. Como conceito relacional, EVED adquire seu pleno significado, ou seja: servo subalterno, súdito, ministro.
Que um homem se denomine como servo de Deus, ou se chame servidor de Deus no AT é conseqüência natural da concepção de Deus como Senhor. A associação primária da palavra EVED não é a de estar submetido, mas a de pertencer ao Senhor e estar protegido por ele. A única diferença essencial na relação do servo entre os homens e entre o homem e Deus consiste em que o servo de um homem pode significar também uma gravíssima diminuição da existência, enquanto que ser servo de Deus significa sempre ter um bom Senhor. Nunca pode significar escravidão em sentido negativo.
Mais especificamente o significado de servo de YHWH nos cantos do servo de Deus (Isaias 42:1-53:12) só é possível esclarecer pelo conjunto dos textos. O sofrimento do servo (52:13-53:12) está estreitamente ligado com a atuação de Deus na história humana. Há comentaristas que sugerem que o servo de Deus descrito na perícopa é Ciro, ou Zorobabel ou mesmo o próprio Israel. Mas, temos de considerar que no texto o profeta fala claramente do servo como uma figura distinta de Ciro, Zorababel e Israel. O servo é retratado como uma figura individual, e além disso devemos considerar que ao ter fracassado o serviço de Israel a Deus, o próprio Deus se encarrega de eliminar o pecado do povo. Através de seu serviço atua YHWH como confirma o texto de Isaias 52:13-53:12.
De acordo com muitos comentaristas, muito se tem escrito sobre a identificação do servo do Senhor apresentado em Isaías 40-55; ainda que a expressão ocorra apenas em Isaías 42:19. Uma ampla relação do sentido da palavra servo tem sido feita, mas temos que considerar que o sentido e o uso da palavra servo no AT segue em textos do NT. Na LXX EVED é mais traduzido como DOULOS = escravo. De maneira muito significativa, Jesus é chamado de servo do Senhor (Cf. Atos 3:13, 26; 4:27,30), provavelmente identificado aqui como o servo de Isaías 53:11. O próprio Cristo se colocou em posição de servo, se humilhou até a morte e morte de cruz (Cf. Filip. 2:6-8), mas obteve a vitória eterna (V. 9-11). Baseado em atos 8:26-40 o servo de Isaías 53 é nada menos que o próprio Jesus (V. 35).
Bibliografia:
Archer, Gleason. Merece Confiança o Antigo Testamento? São Paulo: Vida Nova, 1991.
Davidson, Benjamin. The Analytical Hebrew and Choldee Lexicon. Michigan: Zondervan P.H., 1970.
Stuart, Douglas. Old Testament Exegesis: A Primer for Students end Pastors. Philadelphia: Westminster Press, 1984.

EXEGESE DE ROMANOS 1:1
UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU – FURB
CURSO DE CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
CURSO DE CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
EXEGESE
DE ROMANOS 1:1
O Significado da Expressão: Servo de Jesus
Cristo
(Grego: Doulos
Cristou Iesou)
Por:
Jorge Schemes*
O
texto original em grego diz: “PAULOS DOULOS CRISTOU IESOU KLETOS
APOSTOLOS APHORISMENOS EIS EUANGELION THEOU”. (Paulo, um
escravo de Jesus Cristo, chamado apóstolo que foi separado para o
evangelho de Deus). A Bíblia de Jerusalém traduz o texto assim:
“Paulo, servo de Jesus Cristo. Apóstolo por vocação, escolhido
para o evangelho de Deus”. Contudo, temos que notar a ausência do
artigo definido antes da palavra Apóstolo no original grego. Paulo
começa sua carta assinando no começo pois este é o costume da sua
época, isto é, indica o nome e dá certa informação do autor no
começo e não no final como geralmente fazemos hoje.
Mas,
quem Foi Paulo? A carta aos Romanos começa com um nome pessoal,
Paulo. Não é por acaso que ele começou assim, pois um nome não é
uma mera palavra de rotina, e principalmente no caso de Paulo que era
um dirigente religioso. Ao iniciar a carta de Romanos com o seu nome
Paulo assume sua responsabilidade pois seu nome o colocava em
evidência. Sem dúvidas que a mensagem do seu Senhor começa com o
nome, a humanidade do profeta sob a inspiração do espírito Santo
de Deus (Cf. II Pedro 1:21).
Vamos considerar algumas
características da vida pessoal de Paulo. Nascido em tarso da
Cilicia por volta do ano 10 de nossa era, de uma família judia da
tribo de benjamim, mas ao mesmo tempo cidadão romano. Havia um pacto
entre Roma e Tarso de que quem nascia em Roma era Tarsiano e quem
nascia em Tarso era Romano. Logo, Paulo era, com certeza, cidadão
Romano por nascimento. Podemos concluir também que Paulo foi também
Hebreu por nascimento, educação e sentimentos pois foi capaz de
denominar-se “hebreu dos hebreus” (Cf. Filipenses 3:5). Em
Romanos 11:1 lemos que era da tribo de Benjamim. Siegfried Horn
sugere que talvez colocaram seu primeiro nome como Saul, o primeiro
rei de Israel, o qual também era da tribo de Benjamim.
As
Escrituras Sagradas não dizem quase nada acerca de seus pais. Há
apenas uma menção passageira a sua mãe (Cf. Gálatas 1:15).
Segundo Atos 23:16 Paulo não era filho único, pois neste texto é
mencionado o filho da irmã de Paulo. Mas, pouco se sabe de sua
família. Atos 22:28 faz menção ao seu pai como um cidadão romano
e talvez fariseu (Cf. Atos 23:6); Se foi assim podemos supor que
Paulo procedia de uma família de certa importância na sociedade
judaica. Jerônimo, historiador judeu, afirma que os pais de Paulo
viveram originariamente na região da Galileia, e que por volta do
ano 04 antes de Cristo foram levados como escravos a Tarso, onde
obtiveram sua liberdade, prosperaram e se tornaram cidadãos
romanos.
Assim, a vida de Paulo começou em tarso, e como todo
judeu foi circuncidado ao oitavo dia. O mundo na época de Paulo era
culturalmente heterogêneo e era um mundo poliglota. Sem dúvida
havia uma multidão de idiomas diferentes, sendo o grego a língua
franca do império e o latim além da língua vernácula de cada
grupo.
Os comentaristas estão de acordo ao afirmarem que Paulo
recebeu dois nomes por ocasião de seu nascimento. Devido ao contexto
poliglota e multicultural no qual nasceu Paulo ou Saulo, ele tinha
dois nomes. Pode Ter acontecido o seguinte: quando foi circuncidado
recebeu um nome judeu: Saulo, mas como vivia numa comunidade gentil
foi lhe dado também um nome latino: Paulus, cujo significado
equivale em grego a Pauros, que significa “pequeno garoto”.
Talvez
como hebreu Paulo se identificaria ou se apresentaria assim: sou
Saulo, o fariseu de Jerusalém; e talvez como cidadão romano assim:
sou Paulo cidadão de Tarso. Portanto, a suposta modificação ou
mudança de seu nome não tem fundamento, e certamente não está
relacionada com sua conversão no caminho de damasco. Mas o que pode
ter acontecido foi uma transição do uso de um nome para outro, mas
por quê? Segundo James Dunn, Paulo como cidadão romano gozava de
privilégios, então desde que Paulo se converteu no apóstolo dos
gentios desejava desfrutar de mais liberdade para levar o evangelho
ao mundo da época. Desde que Saulo era um nome pouco familiar fora
dos círculos judaicos, a transição do uso do seu nome foi um feito
natural; assim, Paulo refletia seu compromisso e sua responsabilidade
como apóstolo dos gentios.
O Doutor Siegfried Horn afirma que
Paulo (Gr. Paulos) é mencionado até Atos 13:9 com o nome de Saulo
(Gr. Saulos, do Hebraico Shaul = pedido [a Deus]; Cf. Atos 7:58); e
dali em diante só é mencionado como Paulo, exceto no relato que ele
mesmo faz de sua conversão (Cf. Atos 22:7,13; 26:14). Horn também
sugere que o apóstolo tem dois nomes e que em seus contatos com os
judeus talvez usasse o nome hebreu Saulo, e por outro lado usava seu
nome greco-romano, Paulus, em contato com os gentios, aos quais
desejava evangelizar.
Ma há muita especulação com respeito a
isso, e a mais possível talvez seja a que esteja relacionada com o
contexto histórico de seu nascimento. Portanto é claro perceber que
Paulo expressa seu nome como cidadão romano numa carta para os fiéis
cristãos da capital do império, uma igreja de cristãos judeus e
gentios. Uma coisa é certa, que sua conversão foi decisiva para que
ele mudasse o uso do seu primeiro nome para o segundo, ou seja, Saulo
estava relacionado a sua vida farisaica (judia) e Paulo era um nome
mais próprio para aproximar-se dos gentios como ele mesmo escreveu;
“Me faço fraco para com os fracos [...]”, então eu creio que
Paulo estava fazendo-se gentil para ganhar os gentios, com relação
ao uso de seu nome num mundo gentílico. Paulo desejava Ter uma nova
visão de si mesmo, não mais como Saulo, o fariseu, mas como Paulo,
o apóstolo (aquele que foi enviado com uma missão) para os
gentios.
Paulo, desde sua juventude recebeu uma educação
profundamente religiosa segundo as doutrinas farisaicas. Saulo tinha
um orgulho especial por ser fariseu, vivia como um fariseu “conforme
a mais rigorosa seita da religião judaica” (Cf. Atos 26:5; Filp.
3:5). Saulo recebeu duas fortes influências para ser um fariseu: a
primeira foi a de seu pai, que segundo a indicação do próprio
Paulo era talvez um fariseu; a outra por meio da educação que
recebeu sob a tutela de Gamaliel I (Cf. Atos 5:34; Atos 23:6). O
certo é que Saulo chegou a ser o partidário mais fanático de sua
seita (Cf. Atos 5:34), e desta maneira colocou o fundamento para sua
futura e enérgica cruzada contra Jesus representado em sua igreja
militante (Cf. Atos 9:4). Além de estar envolvido na morte de
Estevão (Cf. Atos 7-8:1-3), Paulo foi um feroz perseguidor da
nascente igreja cristã.
Como fariseu Paulo considerava Jesus
como um impostor, uma vez que acreditava na salvação pelas obras,
em recompensa por méritos, no sofrimento purificatório e na graça
acrescentada aos méritos próprios, ou seja, a salvação era obra
humana ajudada pela graça de Deus quando faltavam ações
meritórias.
Entretanto Saulo foi tocado bruscamente no caminho
de Damasco, pela aparição de Jesus Cristo, que revelou a ele a
verdade da fé cristã e lhe fez conhecer sua missão especial de
apóstolo dos gentios (Cf. Atos 9:1-22). É neste ponto que Paulo ou
Saulo começa a se transformar em “Servo de Jesus Cristo”.
Servo
de Jesus Cristo (Gr. Doulos Cristou Iesou)
Paulo não
inicia sua carta aos Romanos com orgulho, ele jogou fora toda
exaltação própria ao declarar que era um servo de Jesus Cristo
(Gr. Cristou Iesou = Salvador Ungido). Paulo teve toda sua mente e
filosofia farisaica de salvação mudada quando encontrou ao seu
Senhor. E agora começa escrevendo que é servo, escravo do Senhor
dos senhores, Jesus Cristo.
O que Paulo tinha em mente ao
escrever a palavra “servo” (Gr. Doulos = escravo)? Estava dizendo
que sua personalidade e sua liberdade estavam anuladas? Não tinha
mais liberdade para fazer sua própria vontade?
A palavra servo
que Paulo usa é no original grego Doulos, que significa escravo; mas
Paulo não usa a palavra Doulos como algo comum simplesmente. O que
ele deseja dizer é que ele não é mais escravo do farisaísmo cheio
de justiça própria, mas agora é escravo do “Senhor Justiça
Nossa”. O apóstolo dos gentios se denomina a si mesmo como Doulos
de cristo Jesus.
Granfield sugere que o contexto para sua
própria designação como escravo está embasado no Antigo
Testamento. Para a tradição grega a palavra Doulos tem uma
conotação muito negativa. Por outro lado, no Antigo Testamento a
palavra é usada com ois sentidos ou significados: revela as relações
entre reis e servos, mas também é empregada para mostrar o
relacionamento entre o ser humano e Deus. Talvez Paulo esteja tirando
a expressão Servo de Jesus Cristo de sua herança judia, uma vez que
no Antigo Testamento os judeus se consideravam em geral como servos
de Deus, sendo que a aplicação de servo de Deus também é usada em
relação a grandes pessoas ou profetas, como por exemplo
Moisés.
James Dunn sugere que o uso da palavra servo pelo povo
de Israel lhe dava um sentido peculiar e exclusivo de que eles
pertenciam somente a Jeová. Ao usar a mesma expressão, não
significa que Paulo estivesse pretendendo a mesma posição dos
antigos profetas, mas ele talvez estivesse chamando a atenção da
igreja em Roma de que ele não pertencia mais a si mesmo e que era
tão exclusivo para Deus como pessoa como foi o povo de Israel. Paulo
estava dizendo que ele pertencia e dependia do seu Senhor.
Paulo
frequentemente usa a palavra Doulos em seus escritos. Colin Brown
afirma que o título Servo de Jesus Cristo é usado por Paulo para
referir-se a um de seus colegas, Epafras (Cf. Col. 4:12). Brown
sugere que a palavra Doulos tem uma ligação próxima com a palavra
Diáconos (aquele que serve ou servo). Mas, a palavra Doulos é
distinta pois revela um sentido de subordinação, obrigação e
responsabilidade para com o seu Senhor.
O conceito Paulino de
escravidão está intimamente relacionado ao conceito de liberdade,
ao mesmo tempo em que todos somos chamados para a liberdade, somos
chamados também para ser servos uns dos outros em amor (CF. Gal.
5:13). O próprio Paulo se faz a si mesmo servo de todos por meio do
evangelho (Cf. I Cor. 9:19).
É interessante notar que a frase
servo de Jesus cristo é amplamente usada no vocabulário cristão
primitivo. Para os apóstolos na liderança da igreja, mas também
para a comunidade cristã em geral (Atos 4:29; I Cor. 7:22).
É
importante perguntar: Por que Paulo é um escravo? Que status ocupa
como Doulos?
Em seu livro “Slavery as Salvation”,
Dale Martin informa que na sociedade romana os escravos não ocupavam
posições comuns como escravos apenas, mas muitos deles serviam em
casas particulares e alguns como escravos livres. Desta maneira
podemos imaginar que havia diferentes graus de escravatura e
diferentes senhores. Sendo assim, os próprios escravos viviam e
estavam em diferentes status.
Quando um escravo era mudado de
lugar, mudava também sua situação, a qual podia ser menos ou mais
importante. Por exemplo: um escravo no palácio do imperador e um
escravo numa casa mais pobre. Resumindo, a situação de um escravo
estava relacionada com a autoridade e grandeza de seu senhor. Logo,
ser um escravo de Jesus Cristo não é para Paulo uma vergonha ou um
status baixo, mas é simplesmente o mais alto lugar de serviço. Seu
valor como escravo está ligado a posição de seu senhor. Paulo é
um exclusivo escravo de Jesus Cristo (Gr. Iesous Cristou). O que
significa ser servo do Senhor? O nome do Senhor é importante nesta
relação, “Iesous”, segundo Mouton é a forma grega para o nome
Joshua em Hebraico, e foi amplamente usado pelos judeus tanto antes
como depois da era cristã. Então era um nome comum, simples, mas
Paulo não está falando de um personagem comum, pois este Iesous é
o Cristou, que segundo Smith é o Mesias, ou seja, o Ungido do Senhor
YHWH. A escravidão de Paulo está intimamente relacionada com o
senhorio de Cristo, pois Ele é o Kyrios, aquele que tem poder,
autoridade, é mestre, é Senhor, Kyrios é um título divino para
Jesus e usado depois de sua ressurreição, Ele é o vitorioso
Senhor, Eterno Senhor, Rei dos reis e poderoso Deus. Todavia o Kyrios
também vestiu a posição de servo quando assumiu a natureza humana
(Cf. Filip. 2:7).
A palavra servo (Gr. Doulos) na luz da
cultura greco-romana e dos costumes gregos é mais tarde contrastada
com o título familiar usado para os súditos do imperador, como
sendo seus escravos, mas Paulo o relaciona não com o imperador, mas
sim com Jesus Cristo. Doulos descreve uma absoluta dependência e um
total compromisso com o Kyrios e ao mesmo tempo revela a total
soberania do Kyrios acima do Doulos. Todavia Paulo não é um servo
ou escravo por temor, porque seu serviço está baseado no amor do
seu senhor, o qual foi provado e escrito com sangue (CF. Romanos
5:6-8).
Paulo era um escravo de Cristo por amor, se considerava
propriedade de Cristo e completamente sob seu controle. No império
romano havia uma lei que obrigava ao escravo a estar a mercê
absoluta de seu amo, para a vida ou para a morte, estava sujeito ao
menor capricho de seu dono. Assim era com Paulo, não havia separação
entre ele e Jesus, os dois eram um, a personalidade, o caráter de
seu senhor estavam gravados (Gr. Tupos) em Paulo. Uma vez que Jesus o
havia comprado com seu sangue e o havia redimido da escravidão do
pecado e de seu farisaísmo, agora livre do poder do pecado era um
escravo da justiça (Cf. Romanos 6:18). Isso não o conduzia a uma
vida independente, pelo contrário, sua liberdade o levava à
obediência pela fé em Cristo, Paulo se apresentava ao seu senhor
como seu servo (Cf. Romanos 12:11). Por essa razão Kittel afirma que
a frase Doulos Iesou Cristou não pode ser separada do entendimento
de relacionamento dos cristãos com Cristo. Paulo não é meramente
aliado de Jesus Cristo, ou seu súdito, ou seu amigo, pois como
escreveu Handley Moule: “a liberdade do evangelho é a cara de
prata do mesmo escudo cuja cara de ouro é a vassalagem incondicional
ao senhor libertador”. Ser um escravo é terrível no abstrato; ser
escravo de Jesus Cristo é o paraíso no concreto. A rendição de si
mesmo, efetuada em solidão, é lançar-se ao frio vazio. Mas quando
se trata da rendição ao Filho de Deus que nos amou e se entregou a
si mesmo por nós (Cf. Gálatas 2:20), é o iluminado volver da alma
ao lar, ao centro e à esfera da vida e do poder.
Paulo como
Doulos não se relacionava com Cristo numa base legal, jurídica,
forense ou meritória como havia feito no farisaísmo. Ele é escravo
de Jesus Cristo, um nome pessoal e oficial, ou seja, nosso senhor,
nosso profeta, nosso sumo sacerdote e rei, sob o qual Paulo está
servindo e seu serviço é baseado em um relacionamento pessoal, em
uma fusão de personalidades (Cf. Gálatas 2:20). Com certeza Paulo
não estava se declarando independente de Jesus Cristo, e tão pouco
superdependente dele, mas sim seu servo particular, seu tesouro
particular, herança exclusiva de Deus e sua propriedade definitiva;
Paulo estava comprometendo-se com seu Senhor (Kyrios) para sempre
como um escravo livre.
Nos tempos de Paulo muitos escravos
obtinham sua liberdade e havia várias maneiras de obtê-la, mas os
escravos escolhiam ficar com seus senhores e donos pois era mais
vantajoso e seguro, ainda eram escravos, mas livres. Outros escolhiam
permanecer porque haviam se identificado tão completamente com seus
senhores que já não desejavam ir adiante. Paulo desejou ficar com
Jesus como seu servo porque também foi chamado; James Edwards sugere
que Paulo tirou a expressão “servo” do livro de Isaías capítulo
49 versos 3 e 6, onde Deus fala a respeito de seu servo ao qual Ele
enviaria aos gentios para levar sua mensagem de salvação. A própria
vida de Paulo foi um comentário deste verso, ele se considerou a si
mesmo como o apóstolo dos gentios (Cf. Gálatas 2:9), e seu desejo e
aspiração era pregar aos judeus e gentios como “servidor do
Messias Jesus”.
Bibliografia:
MOULE, C. G.
Handley. Exposición de la Epistola de San Pablo a los Romanos.
Buenos Aires: 1924.
EDWARDS, James R. New International
Biblical Comentary on the Epistle to the Romans. Massachusetts:
Hendrickson Publishers, Vol. 6, 1992.
SIMPSON, A. B. La
Epistola a los Romanos. Chile: Imprenta y editorial alianza,
1997.
HORN, Siegfried H. Diccionario Biblico Adventista
del Séptimo Dia. Argentina: ACES, Vol. 8, 1995.
DUNN,
James D. G. Word Biblical Commentary. Texas: Word Books Publisher,
Vol. 38, 1988

DOUTRINA DA REVELAÇÃO - PARTE II
O CONTEXTO HISTÓRICO DA DOUTRINA DA REVELAÇÃO
Por: Jorge Schemes*
I – A TRADIÇÃO CRISTÃ
Na idade média havia os escolásticos que falavam basicamente de três coisas:
1. A existência de Deus.
2. A essência de Deus.
3. Os atributos de Deus.
O mais famoso escolástico foi Thomas de Aquino. A teologia natural surgiu pela via da existência de Deus e sua essência. As portas foram abertas para o racionalismo. Os escolásticos procuravam conhecer a Deus por meio da razão. Para eles há dois caminhos que conduzem a Deus: pelo método descendente e pelo método ascendente.
1. Método descendente – A revelação excede a razão humana. Há as verdades da fé e da revelação. Essas verdades da fé não são contrárias a razão, mas somente por meio da fé se pode chegar até elas.
2. Método ascendente – É possível chegar a Deus por meio da razão.
Thomas de Aquino estabelece uma diferença entre Acire (razão, entender) e Credere (fé, crença). Calvino e Lutero concordaram com os escolásticos que por meio da razão é possível chegar ao conhecimento de Deus, todavia nunca se chegará a um conhecimento completo. Lutero usa fortes expressões para descrever a incapacidade humana de conhecer a Deus em sua essência. Ele diferencia o Deus Absconditus e o Deus Revelatus. Mesmo quando alguém conhece a Deus como Deus Revelatus, Deus permanece um mistério, pois deus não revela sua essência. Mesmo quando Deus se revela, deus permanece escondido.
Toda revelação necessária está contida nas Sagradas Escrituras. A escritura é infalível. Para Lutero, a revelação de deus é uma forma de máscara. Deus em sua natureza e majestade tem que ser deixado de lado, o que nos são os seus atributos e não a sua essência. Calvino tem uma posição semelhante a de Lutero, mas foi mais forte ainda. Para Calvino, a essência de Deus não interessa, nosso interesse prático está nos seus atributos. Podemos conhecer algo de deus por meio da natureza como uma fonte de revelação. Todavia este conhecimento de Deus não depende do homem, pois é sempre posterior e vem depois da revelação de Deus. Há um senso de divindade gravado no ser humano (sensus divinitatis), um sentido de divindade dentro do homem que o acompanha desde a criação. Contudo, depois da queda do homem este sensus divinitatis está em um estado de malícia, obscurecido. Nesta condição o homem não pode conhecer a Deus. O problema está conosco em ver ou não ver a essência de Deus. Para Calvino as escrituras são essenciais, por meio da revelação especial (a Palavra de Deus) e sob a iluminação do Espírito. Assim, para Calvino, o Deus da razão é um falso Deus, pois é o Deus de Aristóteles, composto de puro pensamento, mas não é amor. Assim, conhecer a Deus não depende tanto do intelecto, mas sim do coração humano. Por essa razão a revelação especial é necessária.
II - DEÍSMO
No final do século XVII e início do século XVIII, entram em cena os deístas e surge uma ruptura com a doutrina tradicional acerca da revelação especial. Os deístas criam na razão com profundidade de fé. Com eles a apelação em matéria de fé era feita com a razão e não mais com a revelação. Há uma norma extrabíblica para julgar a fé. Os deístas rejeitam completamente a necessidade da revelação. A religião verdadeira está fundamentada na razão. A ênfase deísta está na transcendência de Deus. O deismo pode ser considerado neste aspecto uma reversão ou volta ao escolasticismo, ou um regresso a crença escolástica da teologia natural, mas com uma diferença fundamental: a revelação especial foi completamente rejeitada. Assim, escolásticos e deístas tinham a mesma postura, porém, os deístas acreditam que a revelação não acrescenta nada que o homem não possa descobrir por meio de suas próprias habilidades. Enquanto os escolásticos defendiam a idéia da teologia natural, os deístas enfatizavam a razão e somente a razão como meio de chegar até Deus, sem a necessidade da revelação especial, rejeitando-a completamente.
As idéias deístas tiveram grande repercussão no Iluminismo, e dentre alguns pensadores destaca-se Emmanuel Kant. Os deístas argumentavam que a razão é independente e não necessita de nenhuma revelação especial. Deus existe porque o mundo necessita de um criador. Assim como um relógio necessita de um relojoeiro. Deus é um criador ausente porque ele não se comunica. Não há necessidade de comunicação divina porque Deus é transcendente, ou seja, Deus criou, mas abandonou a sua criação. Os deístas investiram a razão com uma autoridade suprema e rejeitaram a revelação presente na crença tradicional. A revelação não é mais o critério, mas a razão. Os milagres bíblicos são rejeitados e as doutrinas nada mais são do que erros de observação e um entendimento defeituoso.
III - ILUMINISMO
O Iluminismo foi o maior florescimento do racionalismo, ocorrido no século XVIII. Foi marcado fortemente por uma hostilidade à idéia de uma revelação sobrenatural. E. Kant (1727-1804) foi o personagem pelo qual o Iluminismo atingiu seu clímax. O que é o Iluminismo em síntese? Nada mais é do que a emergência do homem de sua imaturidade; é o homem aprendendo a pensar por si mesmo sem nenhuma dependência de autoridade exterior, quer seja essa autoridade a Bíblia, a Igreja ou o Estado. Kant concordou emm parte com os deístas quando defendeu a idéia de que o conhecimento depende dos sentidos, de noções de tempo e espaço e da relação de causa e efeito. Todavia, uma vez que o conhecimento das coisas materiais é condicionado por tempo e espaço, causa e efeito, então todo conhecimento além da atividade física também depende dos sentidos. Desta maneira, o conhecimento teológico envolve algumas contradições, ou seja: a mente humana não é capaz de conhecer a Deus e nenhum conhecimento metafísico é possível. A mente humana não está preparada para descobrir a Deus, logo, é impossível conhecê-lo. Kant dizia que a mente humana não está equipada para conhecer o metafísico. A razão pura não pode encontrar a Deus. Desta forma, deus tem que ver com a ética, com a vida moral e as demandas morais da vida. Deus só pode ser conhecido pela ética. Kant estava certo ao afirmar que a razão humana não pode conhecer a Deus, todavia para os cristãos o grande obstáculo para isso é o pecado. A teoria Kantiana invalidou qualquer tipo de comunicação vinda de Deus. Kant reduziu a religião aos limites da razão pura. Defendeu uma ética, mas uma ética sem dono do ponto de vista cristão. Para ele religião é razão pura, rejeitando a revelação e dando uma visão humanista. Considerado o maior filósofo do Iluminismo, Kant negou a possibilidade de conhecer a Deus. O Iluminismo teve impactos sobre aspectos da ortodoxia protestante que até agora ainda não foram restaurados.
Frederic Schleiermacher, teólogo alemão (1768-1834) trouxe uma proposta inversa para dentro do cristianismo. O desfio levantado pelo racionalismo foi enfrentado pelo cristianismo com uma outra escola de pensamento, a escola Romancista. Essa categoria filosófica colocava os sentimentos em importância. Schleiermacher pode ser considerado o pai espiritual dos pentecostais, pois enfatizava o subjetivismo e os sentimentos. É considerado o pai da teologia liberal. Schleiermacher era filho de um pai calvinista que era capelão do exército. Desgostoso com o frio racionalismo, em reação tentou revitalizar o cristianismo e reabilitá-lo diante dos intelectuais. Afirmava que religião nada tem que ver com a razão, mas sim com os sentimentos (Gefuhl). Um sentimento filosófico de absoluta dependência de Deus. Religião vem de dentro e não de fora. A ênfase está na imanência e não na transcendência de Deus. Não temos que perceber deus pela razão. Para ele a Bíblia é o resultado dos gênios religiosos e não se trata de revelação. Para Schleiermacher revelação não é a interferência do céu em nosso mundo, pois não há revelação especial, mas é a manifestação do mundo natural. Assim, revelação é uma manifestação do conhecimento dentro do mundo natural; é uma dimensão do conhecimento dentro do mundo natural; revelação é uma descoberta porque emerge, surge, vem de dentro e não de fora. G. Hegel (1770-1831) compartilhava da mesma idéia de Schleiermacher, todavia é mais filosófico. Hegel afirmava que Deus pode ser descoberto independentemente de uma revelação especial. Deus é um conjunto de transcendência (Panteísmo).
*Jorge Schemes:
Bacharel em Teologia Línguas Bíblicas – Grego e Hebraico.
Licenciado em Pedagogia com Habilitação em Séries Inicias e Administração Escolar.
Licenciado em Ciências da Religião.
Pós-Graduado em Interdisciplinaridade e Metodologia do Ensino Superior.
Pós-Graduado em Psicopedagogia Clínica e Institucional.
Professor de Filosofia da Educação e Educação Não-Formal na FEJ – ACE.
Professor de Religião no Instituto de Parapsicologia de Joinville.
Professor de Metodologia Científica na Escola Superior de Teologia e Filosofia do Brasil – ESTEFIB.
Técnico Pedagógico na GEECT - Gerência da Educação, Ciência e Tecnologia de Joinville, SC.

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